Os críticos de cinema já disseram o que precisava ser dito: a minissérie Senna, da Netflix, é uma das melhores produções brasileiras do gênero nos últimos tempos, com produção, direção e atuação impecáveis - coisa de dar orgulho, mesmo. Mas não é sobre isso que quero escrever aqui. É sobre o que o roteiro desperta em quem, de alguma forma, viveu aquela história de perto.
Fui uma dessas pessoas.
Todos os domingos, o ritual se repetia lá em casa, como provavelmente no lar de milhares de brasileiros e brasileiras: os almoços em família (com churrasco do pai) sempre foram antecedidos pela TV ligada na Fórmula 1. Mais do que isso: pela torcida por "Ayrton Senna do Brasil", como dizia Galvão Bueno.
Eu ainda era uma menina e vibrava com a bandeira do Brasil erguida por Senna a cada vitória, embalada pela música que virou símbolo de emoção e orgulho.
Perdi as contas de quantas vezes vi o ídolo no pódio e me emocionei com as corridas. Gostava do som dos motores, dos carros e da velocidade estonteante - se eu pudesse (ah, se eu pudesse!), teria um Kart, como aquele que aparece na minissérie. Restava a bicicleta.
Em 1º de maio de 1994, aos 14 anos, lembro de ter acompanhado, incrédula, a batida mortal de Senna em uma das curvas do circuito de Ímola, na Itália. Fiquei com o coração na mão. O almoço não desceu. Tudo parou.
Naquele dia, a família toda foi para a frente da TV e chorou quando ouviu a notícia da morte de Ayrton. Ele era parte da nossa rotina, quase um de nós. Até hoje me emociono ao lembrar. É curioso como isso pode ser possível.
Assistir à série Senna foi mais do que um bom entretenimento. Foi como voltar ao passado, não só para o dia triste que prefiro esquecer, mas, principalmente, para aquelas churrascadas de domingo com meu pai, minha mãe e meu irmão. As lembranças permanecem vivas. Mais ainda agora.