Meu fornecedor de erva-mate, Adão Pacheco, já sabe: quando entro na Banca 33, ele prepara uma mistura de defumada pura-folha (30%) com moída fina tradicional (70%), bem verdinha. Perto dali, no café, os atendentes me chamam pelo nome. Lá, sou a Juliana. Não sei se sabem que escrevo para um jornal, mas sempre dão "bom dia". Adoro o capuccino deles, acompanhado da baguete com mortadela.
São lembranças bobas, que não interessam a ninguém além de mim, mas me vieram à mente nesta terça-feira (21), quando pisei na lama úmida ao redor do prédio. Até então, estava rodeado de água. Pela primeira vez, consegui chegar perto.
Caminhei devagar, tentando não cair, com tempo para olhar com cuidado o lugar que sempre me acolheu. Sou fã de espaços do tipo. Sempre que viajo, visito locais assim, porque entendo que ali, de alguma forma, está a alma da cidade.
O Mercado Público é isso: um pouco do jeito de ser porto-alegrense, a mais democrática tradução dos hábitos gaúchos urbanos, um recanto de boa comida e bebida, onde todos são bem-vindos, ricos ou pobres.
Depois do incêndio que por pouco não destruiu o prédio em 2013, veio essa enchente desgraçada. E ela veio com força, superando a marca de 1941 e levando tudo que encontrou pela frente. Dos portões, dá para ver prateleiras, refrigeradores, alimentos e sonhos revirados. O local é fonte de renda para mais de 2 mil famílias e mais de uma centena de empreendedores. É, também, ponto turístico e afetivo da Capital.
O Mercado é Porto Alegre.
Não vou escrever sobre o cheiro ruim nem a sujeira. Não quero te contar como tudo está escuro e triste. Também não pretendo falar do silêncio que ouvi por lá. Escrevo para dizer, apenas, que acredito na retomada e na capacidade dos mercadeiros de se reerguer.
O Mercado Público vai superar mais esse desafio. Logo, logo, Adão, te prepara: vou querer um pacotão de erva!