Em abril, escrevi aqui sobre um cavalo de brinquedo gigante que havia sido instalado na Praça da Alfândega, em Porto Alegre. Era um símbolo da imigração alemã e italiana no sul do Brasil, tema da exposição "Artefatos do Sul", em cartaz do Farol Santander. Como o cavalo Caramelo, que ficou famoso no Brasil inteiro ao ser salvo da enchente, o singelo cavalinho de madeira também foi resgatado.
Construído pelo artesão Normelio Brill, especialista em restauro de móveis e dono de antiquário e marcenaria em São Sebastião do Caí, o objeto foi localizado próximo à Usina do Gasômetro.
Na manhã desta terça-feira (21), o item era desmontado e recolhido pelo arquiteto Lucas Moura, para que seja recuperado e recolocado na praça, quando o pesadelo que vivemos chegar ao fim.
Para se ter uma ideia da força da água, a peça foi arrastada por cerca de um quilômetro pelas ruas da Capital. Foi parar no meio da Avenida Presidente João Goulart e só não seguiu adiante porque sacos de areia foram depositados no local para conter o avanço da inundação. Junto do brinquedo, foi localizada também a sua base, uma grande caixa retangular de madeira, a cerca de cinco metros de distância.
— É quase inacreditável como isso pôde ser possível, porque é um objeto grande e pesado. Agora vamos levá-lo daqui para recuperá-lo. Fiquei pensando se faria sentido tudo isso, mas cheguei à conclusão de que é um símbolo de resistência e resiliência, como muitos dos objetos da exposição, que também já passaram por muitas enchentes ao longo da história — diz Moura, que é filho do professor e também arquiteto Calito de Azevedo Moura, dono do acervo destacado na mostra.
Com curadoria da historiadora de design Adélia Borges, a exibição conta com cerca de 950 itens, de antigos cartões postais a portas inteiras. Embora o Guaíba tenha coberto a Praça da Alfândega e afetado parte do Santander, o material da mostra ficou a salvo.