O jornalista Caio Cigana colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Temperaturas gélidas típicas do mês de junho no Estado, acentuadas pelo cortante vento minuano. Chuva, lenha molhada e roupas úmidas. Fome e escassas fontes de alimento. Esse foi o ambiente hostil a que 12 integrantes de um desafio de sobrevivência foram submetidos entre o final de quarta-feira (15) e o último domingo na vastidão dos campos e capões de mato de uma propriedade rural localizada entre Lavras do Sul e Dom Pedrito, na região da Campanha. Soltos vendados no meio da noite em pontos recônditos e desconhecidos, em dois grupos de seis, colocaram à prova seus conhecimentos para encontrar abrigo e comida, desta vez sujeitos às condições inóspitas do Pampa.
A aventura, na verdade, foi organizada pela empresa Via Radical Brasil (VRB), que dá cursos de técnicas para subsistir em situações de emergência na natureza, dispondo de poucos recursos. Uma vez por ano, leva os alunos para testarem o aprendizado nos diferentes biomas brasileiros. Desta vez, a escolha foi por sujeitá-los às asperezas do clima gaúcho e às particularidades do ecossistema típico do Rio Grande do Sul. Não se trata de uma competição com outros participantes, mas uma oportunidade para avaliar as próprias habilidades e a força mental para não sucumbir às agruras dos distintos ambientes naturais do país.
— O destino foi escolhido por conta do frio. Mas não esperávamos a umidade e a chuva. Isso é um agravante, gera uma combinação desfavorável ao sobrevivente. E o minuano pegou. Não parava de ventar, acelerado — conta o proprietário da empresa, o coronel da reserva do Exército Marcelo Montibeller Borges, também presidente da Confederação Sul-Americana de Sobrevivência e Preparação.
Para superar a provação, os participantes podiam contar com poucos meios, que se resumiam às roupas do corpo (mas adequadas às condições locais), saco de dormir, lona, pederneira (ferramenta usada para acender fogo), faca e panela. A partir daí, tinham de empregar seus métodos e conhecimentos para construir um acampamento, aquecerem-se e manterem-se nutridos. A fome foi aplacada com lambaris capturados, outros pequenos animais, frutas nativas e outras plantas comestíveis da região. Os participantes do desafio eram do DF, MG, SP, PR e RS. Apenas um, de 73 anos, não chegou ao último dia, mas devido a um problema de pressão arterial que o levou a optar pela prudência, e não exatamente pela inclemência do frio e da fome.
Por questão de segurança, os participantes não ficam totalmente abandonados. São monitorados via satélite e também com a ajuda de drones. Membros da equipe da VRB também podem ser acionados em caso de algum intercorrência, explica Borges, que serviu em Bagé entre os anos de 1999 e 2001.
Morador de Guarulhos (SP), o empresário Antônio Norberto Ribeiro, 71 anos, classifica o desafio como “o mais pesado” que enfrentou, diferente de outros biomas, onde o calor é a regra.
— Ainda não havíamos nos testado no frio. A umidade penetrava na malha das vestimentas e provocava calafrios. Foi punk, pesado, gelado, afetou o psicológico de alguns, mas tudo contornado ali mesmo — relata Ribeiro.
Largados, esfomeados e encarangados com o clima invernal e impiedoso do Pampa, mas ao fim recompensados com mais experiência, bagagem para novos testes e autoconhecimento.