Alguns músicos parecem se superar nestes tempos. É o caso de Orestes Dornelles e seu terceiro álbum individual (tem mais dois como integrante da extinta banda Tribufu). Compositor com 30 anos de atuação em Porto Alegre, também professor de música, sempre mostrou competência em MPB, samba e alguma incursão pelos sons latino-americanos.
Mas neste novo trabalho, Tudituãni, cuja produção começou antes da pandemia e ganhou corpo durante, mostra um vigor, uma gana, uma pressão que eu não notara nos outros, ou pelo menos não desta forma. “Este é um trabalho que reflete as influências culturais pelas quais estamos passando, com um olhar crítico, de sobrevivência no meio do caos, mas também de esperança na beira do cais”, escreve ele no material de divulgação.
São 11 faixas, passando por folk, ijexá, pop, reggae, rock, chamamê, xote, com ênfase sempre bem brasileira, riqueza melódica, letras marcantes no âmbito da canção de protesto político e ecológico, arranjos e interpretações à altura de tudo isso – a voz de Orestes se mostra mais grave e incisiva do que antes.
O espaço está curto, não digo tudo o que gostaria, cito dois trechos de letras como exemplo: “A única luta perdida é a luta que se abandona” (Tenho Dito), “Mestre Darcy ensinou, entre tantas lições/ A construirmos escolas em vez de prisões” (Entre Tantas Lições). Os personagens da irônica Vem Pro Baile, Capitão são os capitães Rodrigo e Lamarca. Grandes músicos estão com ele, do produtor Lucas Kinoshita a Ângelo Primon, Felipe Narciso, Dany López, Matheus Kleber.
O que é “tudituãni”? Uma brincadeira com 2020 dito em inglês...
TUDITUÃNI, de Orestes Dornelles
- Independente, disponível nas plataformas digitais.
Sinais dos tempos
O jovem compositor guaporense Pablo Lanzoni surpreendeu com o primeiro disco, POA–MVD, em 2017. O segundo, Valentia Tempo Voz, surpreende de forma diversa. Enquanto aquele era bem variado, este vem com um certo formato de suíte, pois as canções se assemelham e têm quase o mesmo tratamento em termos de sonoridade instrumental. Um clima muitas vezes ruidoso, angustiado, sem refresco.
“Por las puertas abiertas es necesario cantar”, canta o uruguaio Dany López, também produtor do álbum, em Buena Onda. Metade das músicas têm parceiros, como Carlos Patrício, Mário Falcão, Dany, Richard Serraria. Além destes, dois fazem participação especial: Zeca Baleiro e a cantora Paola Kirst. “Só a valentia da voz abraçará a aflição”, diz a letra da faixa-título.
Ricardo Taufer, Dado Silveira, Gabriel Nunes, Zé Ramos e Roger Scarton estão entre os músicos.
VALENTIA TEMPO VOZ, de Pablo Lanzoni.
- Independente, disponível nas plataformas digitais.