
Instrumento ancestral do Rio Grande, a viola de 10 cordas ficou esquecida por quase um século. O tradicionalismo nunca se interessou por esse instrumento, talvez por ligá-lo à música caipira paulista, que tem na viola sua sonoridade básica. Mas, dos anos 2000 para cá, chegando pelas beiradas, o som único e as possibilidades múltiplas da viola passaram a encantar muitos músicos gaúchos, entre eles os grandes Valdir Verona, em Caxias do Sul, Mário Tressoldi, no Litoral Norte (Tramandaí), e Angelo Primon e Oly Jr., em Porto Alegre. Primeiro foi cada um por si, até que em 2015 eles resolveram unir as forças e surgiu o grupo Violas ao Sul, que conjuga formações, trajetórias, estilos e modos de sentir a música.
Este ano, depois de apresentações pelo Interior, o grupo lança o primeiro disco em Porto Alegre, dia 30 de abril, no Teatro do Sesc. É coisa bonita de se ver. No palco, como no disco, quatro violeiros cantores interpretando um repertório para mostrar que “a viola também é do Sul” — como diz o refrão da catira Violas do Sul do Brasil, de Tressoldi e Chico Saga, faixa de abertura, já conhecida do público ligado no assunto, com os quatro tocando e cantando. Na segunda faixa, as violas acompanham o blueseiro Oly, também tocando gaita de boca, em sua Milonga Blues, combinação que ninguém fizera antes e que é mesmo um achado. Seguem todos na impressionante Cantiga de Eira, de Barbosa Lessa.
Aí, duas instrumentais divididas entre eles, e os quatro em Gaudêncio Sete Luas (Luiz Coronel/Marco Aurélio Vasconcellos), seguida de mais instrumentais: todos em Chacarera Entre Amigos (que tem citação de Sound of Silence, de Simon & Garfunkel) e Chamamé Blues, com Oly e Verona. Daí, Oly solo em Uma Avença, cuja letra reúne o simoniano Blau Nunes, o rosiano Riobaldo e o mitológico (mas real) Robert Johnson. Depois, com todos, Canção da Meia Noite, de Zé Flávio, sucesso do grupo Almôndegas. E mais três. O repertório, eclético e bem selecionado, é claro em mostrar as possibilidades da viola e suas ricas combinações. Temos então um discaço, que quem gosta de música deve conhecer.
Música uruguaia com tempero brasileiro

Uruguaio da cidade de Durazno, Leonardo Díaz Morales desde cedo foi ligado na música brasileira. “Eu ouvia Caetano Veloso, Elis Regina, Chico Buarque, e aquilo mexia comigo”, diz no material de divulgação do segundo disco, Minutos de Eternidad – o primeiro saiu em 2009. A convite de um irmão que trabalhava em Cruz Alta, mudou-se para a cidade gaúcha em 1992. Lá, começou a fazer shows e a participar de festivais nativistas, nos quais colecionou uns 30 troféus. E lá se casou. Em 2016, ele e a mulher jornalista se transferiram para Porto Alegre e, no ano seguinte, para o Rio de Janeiro, onde tem feito shows em bares e clubes. Sua música é nitidamente uruguaia, com algum tempero brasileiro.
A primeira associação que se faz ao ouvir Leonardo é com Jorge Drexler. Uma música melodiosa, interpretada com delicadeza. Os músicos que o acompanham são muito bons na formação desse clima: Marcelinho Carvalho (violão, arranjos), Miguel Tejera (baixo) e Sandro Cartier (percussão). Leonardo canta em espanhol e em português, com temas sobre melancolias, amores, paisagens.
Água, um Candombe Para Ti tem letra de Jorge Nicola Prado. De las Vertientes de Mi Alma é uma chacarera. Hechizo de Milonga homenageia Noel Guarany, Yupanqui e Zitarrosa. O violão de Yamandú Costa brilha em Zamba a los Lejos. A voz de Tati Portela está na linda valsa Aos Olhos do Luar. Em Bem Mais que Tudo (letra de Carlos Omar Villela Gomes) o diferencial é Samuca do Acordeon.