De Assunção, Paraguai
Ao fim da terceira edição do AsuJazz Festival, domingo passado (7) em Assunção, Paraguai, os organizadores, os jornalistas convidados e, principalmente, os artistas, eram unânimes quanto à importância de ser desenvolvido, no Cone Sul da América, um circuito organizado de festivais.
Já há eventos similares na também paraguaia Ciudad del Este, em Buenos Aires e Corrientes (Argentina), Punta del Este (Uruguai) e Porto Alegre – o POA Jazz Festival terá a quarta edição de 9 a 11 de novembro. A dimensão do AsuJazz (ASU é a sigla de Assunção nos aeroportos) pode servir de exemplo para outras iniciativas. Em quatro dias, o público assistiu a 11 atrações internacionais de alto nível e pôde apreciar um elenco de nove grupos locais mesclando jazz, chamamés, guarânias e polcas.
Dos nomes internacionais, dois reuniam as maiores expectativas do público que lotou a Plaza de La Democracia nas noites de sexta e sábado: respectivamente, os norte-americanos Mike Stern e Dave Weckl e o brasileiro Ivan Lins. Como se sabe, “jazz” é uma designação mais ou menos genérica para os festivais realizados atualmente ao redor do mundo.
Uma das surpresas foi o quarteto ucraniano Two Violins Project, liderado pelo violinista virtuose Illia Nondarenko, 17 anos, combinando folclore de seu país, jazz e tango (o baterista é argentino). Outra, o saxofonista espanhol José Luís Gutierrez, fazendo interessante música improvisada ao lado de um baterista e do harpista paraguaio Juanjo Corbalán, “convocado” durante a semana.
Nomes de peso dos EUA e da Europa no palco
Do Chile veio o Antonio Monasterio Ensamble, cujo líder toca o oud árabe (similar ao alaúde). Italiano, o Enzo Favata Trio reúne sax, violão de 10 cordas e violoncelo elétrico, combinando jazz e músicas étnicas. A Alemanha enviou o Talking Horns, quarteto de sopros de grande circulação pelos festivais europeus, cuja sonoridade parte do jazz tradicional, passando por ritmos latinos e música de câmara. Dos grupos locais, o mais “diferente” do padrão geral foi o Guerilla Soul, de hip hop. Os demais mesclam jazz com elementos da música folclórica, sempre com qualidade mas às vezes tendo que repetir instrumentistas: o muito bom trompetista Jonathan Piñero, venezuelano radicado em Assunção, integrou quatro diferentes formações.
Os melhores do AsuJazz, para o meu gosto (eu estava lá como jornalista convidado) começam com o grupo americano The Baylor Project, de jazz-jazz. Jean Baylor, sua cantora, ainda será muito
falada. Da Itália, o duo eMPathia, de Mafalda Minnozzi (voz) e Paul Ricci (guitarra), levantou o público com uma seleção de músicas brasileira, francesa, norte-americana e, claro, italiana.
Os argentinos do Aca Seca Trio já são um fenômeno de qualidade e popularidade com sua música de projeção folclórica. Show mais arrebatador: o da carismática baterista cubana Yissy Garcia e sua Bandancha com jazz, funk, mambo. O melhor grupo paraguaio foi sem dúvida Néstor Ló & Los Caminantes, 11 músicos atualizando a tradição da polca e da guarânia com grande vigor.
Prefeitura de Assunção fez parceria com embaixadas
Há no Paraguai uma efervescência musical atribuída a vários fatores. As liberdades democráticas conquistadas a duras penas é o primeiro deles. Outro, apontado por alguns, é a criação, há cinco anos, da cadeira de música popular na universidade.
A pressão da comunidade cultural, somada à determinação de sair do isolamento regional, sensibilizou a prefeitura de Assunção a idealizar o AsuJazz – que deu um salto da primeira para a segunda edição e um salto quíntuplo nesta terceira, fazendo do festival, hoje, um dos mais importantes da América do Sul. E vem se realizando com o apoio fundamental do Centro Cultural Paraguayo Americano (CCPA) e das embaixadas.
– Fui pedindo audiências com os embaixadores, enfatizando a eles a importância do espírito de congraçamento do festival e solicitando que nos ajudassem trazendo artistas de seus países, conta Vicente Morales, diretorgeral de Cultura e Turismo da prefeitura de Assunção. – Tenho grande respaldo do intendente, que é um conhecedor, uma pessoa do ambiente cultural.
O que vi, nos quatro dias que passei em Assunção, ao lado de colegas jornalistas brasileiros e argentinos, foi uma produção impecável em todos os sentidos. O AsuJazz se realizou em três locais, todos com perfeita sonorização, item fundamental. Cerca de cem pessoas trabalharam na realização. Uma das responsáveis pela projeção que o festival agora tem é a produtora Mamboreta Psicofolk, da vizinha cidade argentina de Formosa.
* Jornalista, crítico musical e colunista de ZH