Numa época em que os artistas mais famosos recebiam alcunhas dadas pelos apresentadores dos programas de auditório, Sílvio Caldas era “o Rei da Voz”, Orlando Silva era “o Cantor das Multidões”, Emilinha Borba era “a Favorita da Marinha”, e Dalva de Oliveira era “o Rouxinol Brasileiro”. A beleza da voz de Dalva, e sua forma de cantar, influenciaram cantoras como Ângela Maria, 12 anos mais moça, e Elis Regina, já uma estrela quando Dalva morreu, em 1972.
A primeira grande homenagem prestada a ela foi a microssérie Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, apresentada pela Globo em 2010. E, agora, está sendo lançado o álbum duplo Dalva de Oliveira 100 Anos ao Vivo, que mobilizou 31 cantores de várias gerações para lembrar seus principais sucessos.
O álbum resulta de dois shows realizados em São Paulo e no Rio, em julho e agosto de 2017, para comemorar o centenário de nascimento da cantora, na cidade paulista de Rio Claro, em 5 de maio de 1917. Ela tinha 18 anos quando se transferiu com a família para o Rio de Janeiro, em busca de dias melhores. Logo conheceu o cantor Herivelto Martins e meses depois experimentou os resultados do primeiro escândalo, ao sair de casa para viver com ele, ainda um homem casado. Durante mais de 10 anos a relação foi uma sequência de conflitos e crises de ciúmes até se separarem, ela um dos grandes nomes do rádio e do disco, já “o Rouxinol Brasileiro”. O repertório que escolhia frequentemente era reflexo da vida pessoal, um predomínio de canções dramáticas, dores esparramadas.
Repertório destaca o Samba-canção
Com o roteiro dos shows elaborado pelo pesquisador carioca Ricardo Cravo Albin, o clima do álbum não poderia ser diferente. Idealizado e dirigido pelo produtor paulista Thiago Marques Luiz, o projeto teve um grupo de músicos acompanhantes em São Paulo (com arranjos de Alexandre Viana) e outro no Rio (arranjos de Dudu Vieira). Mesmo sob a liderança desse núcleo central, é natural que as interpretações expressem muita diversidade, pois reúnem artistas de formações bem diferentes, tendo a uni-los apenas o foco nas músicas que um dia Dalva cantou. Filipe Catto, por exemplo, pouco ou nada tem a ver com Luciene Franco, contemporânea de Dalva. Os ritmos passam pelo samba-canção (maioria), samba, marchinha, marcha-rancho, baião, tango e bolero.
Como foi dito, são 31 cantores. Citam-se alguns, com a respectiva música entre parênteses, omitindo-se os nomes dos autores: Angela Maria (Neste Mesmo Lugar), As Bahias e a Cozinha Mineira (Eu Tenho um Pecado Novo), Ayrton Montarroyos (Não Tem Mais Fim), Tetê Espíndola (Linda Flor), Cida Moreyra (Velhos Tempos), Edy Star (Fumando Espero), Márcio Gomes (Ave Maria no Morro), Maria Alcina (Kalu), Eliana Pittman (Olhos Verdes), Leny Andrade (Há um Deus), Dóris Monteiro (Zum Zum), Célia – na última gravação de sua vida (Mentira de Amor), Agnaldo Timóteo (Lembranças), Amelinha (Bandeira Branca), Zezé Motta (Máscara Negra) e Gottsha (Hino ao Amor).