Está voltando o Projeto Pixinguinha, que há exatos 40 anos marcou um antes e depois na história da circulação da música brasileira pelo país. Interrompido desde 2007, o projeto da Fundação Nacional de Artes (Funarte) retorna em junho, com a primeira caravana de cinco duplas de músicos/grupos caindo na estrada. Até o final do ano, em três caravanas, 15 duplas terão percorrido 60 cidades das cinco regionais geográficas.
Uma das novidades é que os shows serão apresentados somente em cidades do interior – o público das capitais poderá assistir aos ensaios abertos dos espetáculos antes de darem início à turnê. O elenco está sendo selecionado por cinco curadores representando as regiões e funcionários da Funarte. Os curadores são os músicos Roberto Corrêa, de Brasília, e Pio Lobato, de Belém, mais os jornalistas Antonio Carlos Miguel, do Rio, José Teles, de Recife, e este locutor que vos fala. Entre os funcionários está Marcos Souza, diretor do Centro de Música da fundação.
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Também músico e experiente produtor cultural, Marcos é filho do compositor Francisco Márcio (1948 – 1988), irmão caçula do sociólogo Betinho (1935 – 1997) e do cartunista Henfil (1944 – 1988), todos hemofílicos, que morreram em consequência de Aids adquirida em transfusões.
– Os curadores trouxeram muitos nomes de suas regiões e acho que teremos uma das melhores e mais representativas edições do Pixinguinha – diz ele.
– Chamamos a esses nomes de "novos", que se reunirão aos que denominamos "consagrados" para formar as duplas, na maioria das vezes mesclando regiões, o que não quer dizer que entre os "novos" não estejam músicos veteranos de grande significação, que por alguma razão não chegaram ao conhecimento nacional.
Um dos novos nomes, único confirmado, é o grupo baiano Sertanília, que faz um trabalho inspirado em Elomar Figueira e que participou do show de lançamento do projeto, dia 26 de abril, no Rio. Quando tomou posse na presidência da Funarte, em dezembro, o ator Stepan Nercessian prometeu retomar o Pixinguinha: "Esse projeto é uma pérola dentro da Funarte, uma iniciativa que deu certo, abriu novas oportunidades para dezenas de artistas". Prometeu também "democratizar a Funarte" (ligada ao Ministério da Cultura), abrindo-a a "todas as correntes de pensamento".
A primeira temporada do Projeto Pixinguinha em Porto Alegre, com Ivan Lins e Nana Caymmi, estreou em 22 de agosto de 1977, no Salão de Atos da UFRGS. Na época, cada show ficava em cartaz de segunda a sexta. Foram 13 duplas até o meio de novembro, entre elas Jards Macalé e Moreira da Silva, Cartola e João Nogueira, Gonzaguinha e Marlene. A temporada na Capital gaúcha teve público superior a 71 mil, recorde nacional do Projeto. Em 1978, mais nove duplas, como Nara Leão e Dominguinhos, Alceu Valença e Jackson do Pandeiro, Joyce e Toninho Horta. O show de Fafá de Belém e Beto Guedes foi o que teve o maior público: 15.331 pessoas.
Agora é esperar pela divulgação dos nomes deste ano, que, como esses, também entrarão para a história. E vale lembrar que em 2017 comemoram-se os 120 anos de Pixinguinha.
ANTENA
HYBRIDO
De Antonio Adolfo
Em 2017, o pianista, compositor e arranjador Antonio Adolfo comemora duas datas fechadas: 70 anos de idade e 40 do lançamento de Feito em Casa, primeiro disco independente do Brasil. Ele resolveu se dar de presente um álbum atípico entre os mais de 30 que gravou. Em Hybrido - From Rio do Wayne Shorter, AA "traduz" parte da obra do grande saxofonista norte-americano para o idioma do jazz-samba. Shorter tinha forte ligação com a música brasileira, dividiu com Milton Nascimento o hoje clássico disco Native Dancer (1975). Duas músicas desse álbum, Ana Maria e Beauty and The Beast, estão em Hybrido, que tem nos saxes Marcelo Martins. Jessé Sadoc, Lula Galvão, Jorge Helder e Serginho Trombone são alguns dos músicos. O cantor Zé Renato brilha em Footprints. Tem mais Deluge, Prince of Darkness, Black Nile, Speak no Evil e E.S.P. Assinada por AA, Afosamba fecha o álbum, que deverá agradar os fãs de Shorter. AAMusic/Rob Digital, disponível nas plataformas digitais.
O MURO REVER O RUMO
De À Deriva
Sexto álbum do quarteto paulistano À Deriva, o atual trabalho é o mais radical de todos. Trata-se de um desdobramento da parceria com a companhia teatral Les Commediens Tropicales para o espetáculo Guerra sem Batalhaou Agora e Por um Tempo Muito Longo não Haverá Vencedores Neste Mundo, Apenas Vencidos (2015), inspirado no escritor alemão Heiner Müller (1929 – 1955). Não sei definir esse tipo de música teatral, neste caso quase sufocante. O grupo diz que O Muro Rever o Rumo (um palíndromo) "representa um singular ponto de convergência, em que há diluição de limites entre materiais tão distintos quanto a improvisação livre, o free jazz, a música eletroacústica, a composição atonal, o jazz modal, o rock e a música para cena". A sensação é a de quem quer se agarrar na água para não afundar. Os músicos são Beto Sporleder (saxes), Daniel Muller (piano, teclados), Rui Barossi (baixo, guitarra) e Guilherme Marques (bateria, percussão).
Distribuição Tratore.
TOCANTE
De Lulinha Alencar e Mestrinho
Azes da sanfona, o potiguar Lulinha Alencar e o sergipano Mestrinho começaram ainda crianças, acompanhando os pais forrozeiros. Há muito vivendo em São Paulo, estão entre os mais requisitados nomes do instrumento, tocando com grandes nomes da MPB. Têm discos próprios, mas neste ToCantE unem-se pela primeira para um tributo ao seu mestre Dominguinhos, com quem se apresentaram em algumas oportunidades. É um disco para os que gostam da sonoridade do acordeom, apenas os dois e mais nenhum instrumento, em choros, xotes, baiões. Cada um selecionou duas composições próprias, intercaladas por seis músicas de Dominguinhos reverenciando alguns de seus ídolos, como Homenagem a Jackson do Pandeiro, Homenagem a Pixinguinha e Um Abraço no Romeu (nome de batismo do gaúcho Chiquinho do Acordeon). Para fechar o álbum, um superconvidado: o francês Richard Galliano.
Selo Núcleo Contemporâneo.