Com atrações argentinas, brasileiras e uruguaias, o Festival Medio y Medio, que este ano teve sua 21ª edição, pode ser considerado o mais extenso, pluralista e refinado encontro musical do Cone Sul. Começando no final de dezembro, a programação se desenvolve durante janeiro e fevereiro em dois palcos integrados ao clube de jazz e restaurante Medio y Medio, um dos points da praia de Punta Ballena (onde se situa a Casapueblo, famoso monumento artístico-turístico do litoral uruguaio). Assisti aos shows de encerramento do festival, de 25 a 27 de fevereiro, e foi pura surpresa, pois eu desconhecia sua potência. Todos argentinos, os shows foram com Baglietto e Lito Vitale, os dois grandes músicos comemorando 25 anos de parceria; a estrela do tango Adriana Varela; e o cantor e guitarrista Gustavo Cordera, criador da extinta banda de rock alternativo Bersuit Vergarabat.
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Para dar uma ideia, já passaram pelo Medio y Medio León Gieco, Jaime Roos, Hermeto Pascoal, Lito Nebbia, Ruben Rada, João Bosco, Luis Alberto Spinetta, Leny Andrade, Fernando Cabrera, Yamandu Costa, Chico César, Chango Spasiuk e Vitor Ramil, entre tantos. Os brasileiros deste ano foram Maria Gadú (com seus convidados Silva e Dani Black), que fez três apresentações, e o grupo de Itiberê Zwarg. Os shows se dividem entre o Palco Parque, ao ar livre, com capacidade para 500 pessoas, e o Palco Fattoruso, interno, para cerca de cem – o nome é uma homenagem ao notável multi-instrumentista uruguaio Hugo Fattoruso, que tradicionalmente abre o festival com seu grupo. Filho de Hugo (e afilhado de Milton Nascimento), o contrabaixista Francisco Fattoruso comanda nas terças de janeiro as jam sessions Martes on Fire, sempre com convidados.
Leandro Quiroga Ferreres, criador e diretor do Medio y Medio, diz que a família Fattoruso representa o espírito do festival, livre, aberto a todas as tendências:
– O conceito que nos move é cultural. Aqui convivem artistas consagrados e novos, de grande mídia e "perdidos". Mesmo artistas acostumados a se apresentar para milhares de pessoas não levam em consideração que nossos espaços são pequenos, querem vir sempre, se oferecem para participar, se sentem em casa. Vários que voltaram este ano estiveram em anos anteriores. Aqui não tem competição, todos são tratados de igual forma. Penso na programação como uma trilha musical do início ao fim, feita não só de estilos, mas de timbres, de melodias, de letras. Vamos lançar um DVD sobre os 20 anos do Medio y Medio, centrado em nove artistas e no nosso empreendimento, incluindo a história do restaurante.
Além de realizador do festival, Leandro é conhecido também como empresário e produtor de artistas uruguaios, argentinos e brasileiros. Durante um bom tempo representou Vitor Ramil na Argentina, coordenando shows de lançamentos de discos. Há 11 anos administra a carreira de Hermeto Pascoal na América do Sul – exceto o Brasil. Também é agente de Maria Gadú para a mesma região, e este ano vai levá-la ao Japão. Conhece muito da música brasileira, mantém contatos frequentes com inúmeros artistas. E agora se prepara para ele próprio subir aos palcos, se levar adiante uma resolução recente:
– Sou guitarrista e violonista, estudei música em Buenos Aires e em Nova York. Não cheguei a tocar profissionalmente, pois logo me envolvi com o projeto do Medio y Medio. Fora disso, assisti a muitos shows. Para dar uma ideia, nos 250 dias que vivi em Nova York, fui a mais de 180 shows. De uns dois anos para cá, voltei a pegar o instrumento. Participei em fevereiro das oficinas de música universal que Itiberê Zwarg deu durante o festival, e toquei no meu palco pela primeira vez em 20 anos.
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