Quando "descobri" Cristina Braga, uns 10 anos atrás, não parei mais de segui-la. É uma música extraordinária, tanto no erudito quanto no popular, além de uma bela e simpaticíssima mulher. Seu novo disco (já lançou cerca de 20) está entre os melhores da carreira iniciada no fim dos anos 1980. Whisper foi gravado ao vivo na Alemanha com a famosa Brandenburger Symphoniker e o brasileiro Quinteto Moderno do Samba. Primeira harpista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com carreira internacional de concertista, Cristina trouxe seu instrumento para a bossa nova e descobriu-se também uma cantora exata para o gênero – suave e cálida, meio sussurrada, com um quê melancólico, sua voz tem certa semelhança com a de Nara Leão. Quando começa a cantar, a empatia com o público é instantânea. O disco mostra que, às vezes, a plateia não resiste, aplaudindo no meio da canção.
Ímã irresistível, a primeira faixa, Meditação (Tom Jobim/Newton Mendonça), cantada em inglês e francês, tem a participação vocal e na guitarra de Dado Villa-Lobos, em finíssimo arranjo. Autores da maioria dos arranjos e orquestrações, Ricardo Medeiros e Ruriá Duprat são em grande parte responsáveis pela sonoridade do disco, com espetacular desempenho da orquestra em composições como Samba Triste (Baden Powell/Billy Blanco), É Doce Morrer no Mar (Dorival Caymmi/Jorge Amado), All Mine (Francis Hime/Ray Evans) e a versão em alto ritmo de A Rã (João Donato).
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Mas talvez os arranjos mais impactantes sejam os de Alberto Rosenblitt para Whisper on a Prelude (dele e Cristina) e de Jaques Morelenbaum para Canto Triste (Edu Lobo). Entre os instrumentistas destacam-se o trompete de Jessé Sadoc e o vibrafone de Arthur Dutra, integrantes do quinteto. Trata-se de um disco do tipo raro, mais um marco da bossa nova, essa jovem sessentona.
WHISPER – THE BOSSA NOVA BRANDENBURG CONCERTO
De Cristina Braga & Brandenburger Symphoniker
Biscoito Fino, R$ 25.
Gustavo Ripa: uma surpresa
A programação de música do Santander Cultural é sinônimo de qualidade e particularidade. Mas hoje quero recomendar que fiquem atentos para a atração da próxima semana, sábado 28: o violonista uruguaio Gustavo Ripa.
Eu nunca tinha ouvido falar nele, até ouvir seus três discos: Calma (2010), Más Calma (2012) e Calma 3 (2014). Aí me dei conta da distância cultural que, apesar de todas as iniciativas nesse sentido, ainda é grande entre Porto Alegre e Montevidéu. Fui ouvindo os discos, me encantando com eles e me perguntando: mas como todos os músicos que têm feito essa ponte, de Vitor Ramil a Mário Falcão, passando por Richard Serraria, Danny Lopez, Marcelo Delacroix, Sebastian Jantos, Zelito, nunca me falaram de Ripa, que tem muito a ver com templadismos e estéticas do frio, assim como os Drexler?
Pelo que ouvi em casa e no player do carro pelas estradas uruguaias, e pelo que li depois, Gustavo Ripa não é apenas mais um instrumentista competente, que se forma em violão clássico e “descobre” o popular. É um estudioso que vai fundo, tanto que mergulhou nos aspectos terapêuticos e transformadores da música, como podemos conferir na internet, entre outras coisas.
Mas ok, o que interessa agora é o recital que ele fará em Porto Alegre (e que já fez em Recife). Prepare-se para um exemplar resumo violonístico da música contemporânea uruguaia, com incursões argentinas. Entre os autores que toca nos discos, estão Zitarrosa, Eduardo Mateo, Fernando Cabrera, Jaime Roos, Leo Maslíah, Mariana Ingold, Rubén Rada, Litto Nebbia e María Elena Walsh. Então: sábado da semana que vem, às 18h.