Os discos de duas grandes cantoras brasileiras, em tudo diferentes, são os melhores de 2015 na votação dos oito críticos reunidos mais uma vez por Zero Hora. Na verdade, o vigoroso A Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares, ficou em primeiro lugar, com seis indicações, enquanto o lírico e afetuoso Pedras que Rolam, Objetos Luminosos, de Jussara Silveira, recebeu cinco. Considerando que no ano passado a vencedora da enquete foi Mônica Salmaso com seu Corpo de Baile, temos nova demonstração da importância das cantoras na MPB.
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Com mais de 60 anos de carreira, Elza tornou-se um mito principalmente a partir dos anos 2000, ao ser descoberta por novos públicos. Já Jussara, que estreou em disco em 1997, é uma rara baiana de sua geração não contaminada pelo clima de "vai rolar a festa".
Nas outras posições da enquete, só dois álbuns obtiveram três votos: Estado de Poesia, de Chico César, e Velhas Ideias Novas: O Sax da Gafieira ao Sambajazz, de Leo Gandelman (no ano passado foram sete, sendo três internacionais). Treze discos receberam duas indicações e 39 foram citados apenas uma vez. A enquete partiu de cerca de 140 lançamentos, dos quais 55 estão nas listas desta página. Claro que o número de discos lançados no Brasil é muito maior, mas os oito jornalistas restringiram a estes seu universo de apreciação. Não tem música sertaneja, nem gospel, nem pagode joia, por exemplo. São elitistas? Nessa comparação, digamos que sim.
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Outro detalhe interessante diz respeito à democratização da produção fonográfica. Dos 55 CDs listados, somente 12 são de grandes gravadoras, cinco nacionais e os sete únicos internacionais. Daí que 43 são independentes ou lançados por pequenos e médios selos (como Biscoito Fino). Destes, seis dão crédito a editais de leis de incentivo (Natura, Itaú Cultural, Petrobras). Alguém estará fazendo no país pesquisa a respeito disso? O que se nota é que os independentes já têm uma distribuição melhor organizada, embora ainda dependente dos canais de divulgação Rio-São Paulo.
Contrariando as teses de que a produção de discos se retrai, nosso colaborador Carlos Calado observa:
- O volume de lançamentos é imenso, cresce a cada ano. Aliás, é um crescimento inversamente proporcional ao espaço que a imprensa tem dedicado à crítica musical.
No Rio Grande do Sul, temos prova desse volume no Prêmio Açorianos de Música: 150 trabalhos inscritos, uns deles indicados aqui pelos três gaúchos do "júri" e outros penosamente deixados de fora.
Mas este formato de seleção dos discos do ano talvez seja o último. Manifesta-se entre os colaboradores um desconforto em eleger os "melhores" ante tantas diferenças. Uma das ideias seria ampliar e segmentar o "júri" por gêneros - MPB, rock, instrumental etc.
A lista do colunista
Carlos Careqa - Por um Pouco de Veneno (Bed/Tratore)
Cida Moreira - Soledade (Joia Moderna/Tratore)
Elza Soares - A Mulher do Fim do Mundo (Natura/ProacSP/Circus)
Ian Ramil - Derivacivilização (Escápula Records)
Jussara Silveira - Pedras que Rolam, Objetos Luminosos (Dubas/Universal)
Kleiton & Kledir - Com Todas as Letras (Biscoito Fino)
Matheus Kleber - Congruências (independente)
Omar Giammarco & Arthur de Faria - Música Menor (Loop Discos)
Virgínia Rodrigues - Mama Kalunga (Itaú Cultural/Casa de Fulô)
Zé Manoel - Canção e Silêncio (Natura Musical)
Coluna
Disco do ano é de Elza Soares
A cantora foi a mais votada na tradicional eleição dos melhores da temporada realizada pela coluna. Em segundo ficou Jussara Silveira
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