O título nos remete ao ano 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff estava sofrendo o processo de impeachment. Nas ruas, protestos e gritos de “não vai ter golpe” ganhavam eco. Com a grave crise econômica, o avanço do fascismo e o apoio da grande mídia, o golpe foi executado. Naquele contexto, não adiantaram os protestos pela democracia. O golpe parlamentar veio rápido e ainda viabilizou o caminho para um dos momentos mais sombrios e trágicos da nossa história recente: a eleição de Jair Bolsonaro.
Antes de mais nada, tenho de dizer que nesse 7 de Setembro não vai ter golpe. Embora uma ala radical, conservadora e saudosista dos tempos da ditadura tenha se animado nos últimos anos, é bom que se diga: não haverá golpe. Os militares sérios e comprometidos com a democracia sabem disso.
O que está havendo nesse Sete de Setembro não é um golpe, mas um sequestro do significado das palavras “pátria” e “independência”. Duzentos anos depois, temos de lutar por outras liberdades: a liberdade de expressão, a liberdade de cultos religiosos de matriz africana, a liberdade pelo direito a uma boa educação, por exemplo.
Para mim, o 7 de Setembro sempre foi uma data esquisita. Em minhas memórias mais remotas desse dia, me vem a imagem dos desfiles de soldados, tanques e jipes. Para mim, nunca me pareceu uma data para comemorar a nossa independência da coroa portuguesa, mas apenas para mostrar que tínhamos um exército.
Acho agora ainda mais estranho que se queira associar esta data à possibilidade de colonização da liberdade. Associá-la a imposições inconstitucionais. Podemos nos perguntar como chegamos a isso. Penso que hoje é momento de reflexão sobre nossa identidade ou afirmação de nossas características como nação.
Para um país ser um país, são necessários alguns elementos básicos: língua, fronteiras e um acordo entre os habitantes sobre a narrativa do próprio passado. Isto é, uma nação se mantém também a partir de um certo entendimento sobre sua história. É a partir desse entendimento que se chega à ideia de pertencimento identitário. Entretanto, quando temos um grupo que pretende recontar a história a partir de fake news, e não a partir de fatos, caímos nesse perigoso discurso fascista.
Não tenho a minha definição de pátria, mas, se tivesse, ela estaria muito próxima desse trecho, no livro Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto: “Ter pátria é assim como você está a fazer agora, saber que vale a pena chorar”. Talvez devêssemos usar este dia para refletir se o país em que vivemos valerá nosso pranto.