A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
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A preocupação com as mudanças climáticas já entra em definitivo na agenda de pautas das empresas ligadas ao agronegócio. O tema foi destacado como o principal desafio em estudo que elencou oportunidades e riscos para o setor. Enfrentá-lo passa não só por reduzir impactos do efeito do clima na produção, mas também por desbravar novas oportunidades.
As conclusões fazem parte do estudo “Top 10 riscos e oportunidades para o Agronegócio”, elaborado pela gigante global EY. A pesquisa ouviu líderes de grandes empresas do agro brasileiro, em levantamento realizado no ano passado.
Alexandre Rangel, sócio e líder de consultoria para o setor de agronegócios da EY no Cone Sul, avalia que a percepção dos executivos sobre o tema demonstra que a questão climática ganhou corpo e vem se aprofundando nas empresas.
— Quando aparece um risco tão bem ranqueado, significa que já há uma agenda estratégica por trás. E é interessante que começam a aparecer uma série de demandas sobre temas ligados à mudança climática combinados à economia de carbono — diz o líder da EY.
As ações para mitigar os efeitos climáticos no campo, como investimentos em irrigação para os casos de estiagem ou de novas tecnologias que protejam a produção de episódios de geada, custam caro e nem todos os produtores têm capital para aportes grandes nessas áreas. Junto com o mercado de carbono que começa a se consolidar, surgem novas oportunidades de rentabilizar.
— Muitas empresas estão vendo esse mercado como uma forma de se autofinanciar. É parte de um potencial e pode ser um círculo virtuoso onde as empresas olham as oportunidades de carbono e usam o dinheiro para financiar projetos de mitigação dos efeitos climáticos, que muitas vezes, como é o caso do Rio Grande do Sul, são os eventos extremos de seca prolongada — diz Rangel.
Em linha a esse tema, surgem também como oportunidade as opções de crédito verde. Os incentivos aos créditos com selo de sustentabilidade são ainda iniciais no mercado e a maior parte das empresas têm dúvidas de como utilizar os benefícios. Também há espaço para a agricultura de baixo carbono e as técnicas de plantio direto e integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo.
Outro desafio que ganha destaque no estudo são os gargalos de infraestrutura, que permanecem como demanda antiga do setor. Segundo Rangel, o que mais tem preocupado atualmente é a questão da armazenagem. Se houverem novos aumentos de produtividade, o país não terá como estocar a produção.
A lista do “Top 10 riscos e oportunidades para o Agronegócio” considera, ainda, a capacitação da mão de obra como um desafio. Aqui, a especialização do trabalho se impõe principalmente diante do surgimento de novas tecnologias e da mecanização do agronegócio, exigindo trabalho qualificado.
Os demais riscos e oportunidades que compõem o estudo são produtividade e custos, restrição ao uso de agroquímicos, ética e compliance, intervenção governamental e reformas regulatórias, rentabilidade e variação cambial, e profissionalização e evolução da governança.