
O apertar do botão até pode ter sido, mas a desativação em si da usina térmica de Candiota não ocorreu da noite para o dia. Retirar, mesmo que gradualmente, o carvão da matriz energética é um debate de muitos anos já. Dormiu no ponto quem não começou em paralelo a sua transição econômica.
Sim, a cidade e seu entorno dependem muito do carvão para a economia. Mas não deveria mais. O que se fez para reduzir a dependência gradualmente? Quais outras indústrias e empresas em geral se incentivou para que se instalassem no local a ponto de ir adaptando os ponteiros do PIB local e da geração de empregos?
O governador Eduardo Leite foi a Brasília nesta semana pedir para prorrogar por mais 10 anos o funcionamento da térmica. Se isso for aceito pelo governo federal e a discussão seguir como foi conduzida na última década, estaremos pedindo nova ampliação de prazo em 2035. O poder público tem que incentivar novos negócios e ir retirando a ajuda à economia do passado. Já as empresas precisam ser protagonistas e buscar novos nichos de mercado em vez de se acomodar. A comunidade também tem seu papel, ficando atenta ao debate e cobrando planejamento e execução adequados para a mudança. Se ficar alheia, também peca.
Só mudaria minha posição contrária à prorrogação, caso viesse acompanhada de um plano rígido de transição econômica (que já chegaria bem atrasado). Teria que ser muito pragmático, sem eufemismos em nomenclaturas e com rompimentos imediatos no caso de metas não serem cumpridas ao longo deste período.
A transição energética tem, sim, que caminhar com cuidados econômicos. Ela, aliás, é a grande impulsionadora da economia de futuro. Mas, se for para continuar empurrando com a barriga, medidas drásticas têm que ser tomadas. Ou será que o planeta precisa dar ainda mais sinais de que sua tolerância acabou?
Abaixo, uma conversa rica que tive com um ouvinte durante o Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, pelo YouTube de GZH:
Junior Souza: Aqui no município de Candiota, a usina é essencial. Trabalho na usina e as empresas estão demitindo funcionários e dando férias para poder ganhar tempo. A RBS deveria vir aqui ver a realidade.
Giane Guerra: Oi, Junior Souza. Nossa reportagem tem ido com frequência. O grande problema é AINDA SER essencial. Não deveria. A transição econômica já deveria ter ocorrido há muito tempo.
Junior Souza: Concordo com você e, nesse caso, quem seria o responsável por essa transição? Infelizmente, ficamos reféns da situação.
Giane Guerra: Acho que se faz em conjunto: comunidade, setor empresarial e poder público. Transição econômica é algo que depende de todos. Não se faz sozinho. Por isso talvez que se adie tanto.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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