Após a disparada do final de 2024, o dólar engata uma sequência de quedas com poucas interrupções. Dos R$ 6,16 do primeiro dia útil de 2025, a moeda norte-americana caiu a R$ 5,76, patamar que mantinha em novembro do ano passado. O que provoca isso? Vamos a alguns motivos:
1 - Trump - Embora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteja anunciando tarifaços à importação, eles têm sido considerados menos intensos do que o previsto no ano passado. Tanto com percentuais bem menores do que os ditos na campanha - especialmente para a China -, quanto com recuos relativamente fáceis na negociação, como ocorreu com a suspensão das taxas para México e Canadá. Como são vistos como inflacionários, havia o receio de impacto maior de elevação da taxa de juro norte-americana, o que leva dólares para lá e eleva a cotação mundialmente.
2 - Economia EUA - Indicadores têm apontado uma desaceleração da economia dos Estados Unidos, a maior do mundo. Isso retira pressão para que o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, volte a elevar juro. Ontem mesmo foi divulgado um aumento nos pedidos de seguro-desemprego. O mercado de trabalho é bastante considerado pela autoridade monetária daquele país.
3 - Governo Lula - Acalmou momentaneamente o estresse com medidas que elevam gastos do governo federal. Até há alguns sustos, como a informação de que o Bolsa Família aumentaria. Também existe o receio de que a baixa popularidade de Lula com o agravamento da inflação o leve a anúncios que elevem gastos. Porém, o recesso do Congresso deixa as coisas mais calmas.
4 - Desaceleração - Algo ruim que leva a algo bom. Sinais de desaceleração econômica nos Estados Unidos e no Brasil também acabam retirando pressão sobre o dólar. O FED observa muito o mercado de trabalho para projetar pressões inflacionárias e decidir se eleva ou para de cortar o juro. A inflação aqui até recuou, mas foi por um bônus temporário de Itaipu na conta de luz. O aumento de preços dos alimentos segue no radar.
5 - Envio de divisas - Também passou a janela sazonal na qual subsidiárias brasileiras de multinacionais enviam seus dólares para as sedes no Exterior. Com a tensão do último trimestre de 2024, este movimento havia sido ainda mais intenso, reduzindo a quantidade da moeda no mercado interno.
6 - Ajuste - Lembre da máxima de que o mercado sobe/desce no boato e faz o movimento contrário no fato. É um tradicional ajuste, puxado pelo movimento de susto e de manada, potencializado por quem especula para lucrar com este vaivém.
7 - Juro - Na última reunião, o Banco Central manteve a promessa de elevar a taxa de juro Selic em 1 ponto percentual e sinalizou que deve fazer o mesmo em março. A decisão veio mesmo com o indicado de Lula, Gabriel Galípolo, assumindo a presidência da autoridade monetária. Além da relativa segurança institucional, o juro alto no Brasil atrai dólares de investidores, reduzindo a cotação por aqui.
Aproveitando, a tendência para o dólar foi pauta da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas Asset:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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