A disparada do dólar e o impacto no consumidor foram temas da entrevista da economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Qual o prazo a alta do dólar chegar aos produtos vendidos ao consumidor?
A grande questão é a estabilização de um novo nível de dólar. Se existe uma coisa que é muito ruim para o empresariado, é repassar aumentos de custo. Como não é coordenado, aqueles que correm na frente tendem a perder consumo. Então, todo mundo retarda, o que não é sustentável a médio e longo prazo. O repasse é certo quando se vê que a desvalorização veio para ficar. E podemos dizer que, aparentemente, o câmbio está mudando de nível. Falávamos até pouco tempo em um final de ano com taxa de R$ 5,40. Hoje, pensar em algo diferente de R$ 5,70 ou R$ 5,80 beira a ingenuidade. Então, é provável que esse repasse do dólar apareça quase que imediatamente, porque já está se consolidando uma taxa mais elevada.
Quanto dessa alta se deve à preocupação com as contas públicas do governo federal e quanto se deve ao resultado da eleição dos Estados Unidos?
É muito difícil quantificar. Na verdade, essas coisas acabam se potencializando. O Brasil nunca conseguiu retornar ao patamar pré-pandêmico em termos de taxa de câmbio. Sempre flutuamos em um nível mais alto. Quando olhamos nossa moeda frente a outras moedas do mundo, ela sempre foi tipicamente muito mais volátil. Isso tem características do nosso próprio mercado, que é pequeno perto de outros internacionais. Mas quando olhamos esse recorte específico do tempo, temos uma soma de coisas que contam contra nós. Por exemplo, temos uma questão sazonal, esse período do ano com saída de recursos do país, porque muitas empresas mandam resultados para suas matrizes. Desde quando começou a ficar clara a tendência de eleger presidentes nos Estados Unidos - podia ser a Kamala (Harris), podia ser o (Donald) Trump - com viés inflacionista, também estávamos contratando a médio e longo prazo um dólar mais valorizado. Temos, obviamente, o nosso componente particular aqui no Brasil que é a nossa dinâmica fiscal, com o pacote anunciado na semana passada aquém do esperado. Aí, vem essa cereja do bolo que são as ameaças protecionistas de Trump. Mas, quando se ouve falar que países do Brics estão pensando em uma alternativa ao dólar, isso está muito mais em palavras jogadas ao vento para ver se cola do que ações práticas.
Ouça a entrevista na íntegra:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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