Criada em 1933, a Tennessee Valley Authority (TVA) é uma autarquia do governo dos Estados Unidos para controlar enchentes, melhorar a navegação, o padrão de vida dos produtores rurais e gerar energia elétrica ao longo do Rio Tennessee e de seus afluentes. A região sofria e ainda enfrenta inundações e estiagens de tempos em tempos. A jurisdição da TVA cobre partes de sete Estados: Alabama, Geórgia, Kentucky, Mississippi, Carolina do Norte, Tennessee e Virgínia. O podcast Nossa Economia, de GZH, conversou sobre a iniciativa com o professor Markus Brose, da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Como surgiu a TVA?
Havia uma recessão mundial iniciada na quebra da bolsa de valores em 1929, entendendo-se como um colapso do capitalismo. Então, Franklin Roosevelt apresentou ao eleitor a proposta de regular a economia. Ele tinha um projeto pessoal muito importante, que era o do Vale do Tennessee, uma bacia muito grande, com uma pobreza histórica, negros trabalhando na escravidão e agricultores muito pobres. Não havia eletricidade na área rural. O presidente resolveu investir para promover o desenvolvimento da região, criando a TVA, em vez de intervir nos governos estaduais e municipais, todos administrados por pessoas brancas. Uma autarquia federal foi a solução encontrada, gerando recursos próprios com a eletrificação. Só havia empresas privadas no setor, que não se interessavam pela área rural.
Mas ela tem um escopo amplo....
O que deu certo foi gerar recurso com eletrificação rural. Instalou-se um comércio que não existia, de eletrodomésticos. A TVA como empresa de geração de energia elétrica existe até hoje, rentável e sustentável. O dinheiro foi usado para construir escolas e a população foi alfabetizada. Deixou de votar em políticos racistas, o que é um impacto de longo prazo.
Aprenderam a conviver com os fenômenos climáticos?
A convivência não é o combate, certo? No Brasil, tentamos combater a seca. Não funciona. É preciso se adaptar. No Tennessee, há chuvas torrenciais que, na região montanhosa, levavam o solo fértil embora. Contratou-se universidades para trabalharem com os agricultores boas práticas de conservação de solo, com plantio de árvores para conter a erosão. O rio também se tornou navegável, fazendo o comércio funcionar. Quem implementou a estrutura foi um engenheiro de nome Arthur Morgan. Existia um cartel de cimento e Morgan disse que, se não baixasse o preço, ele mesmo construiria uma fábrica de cimento. O cartel cedeu. Foram construídas barragens de contenção para impedir que a água descesse com muita rapidez. Foi revolucionário na época.
As cidades foram repensadas?
As pessoas usam a margem do rio, mas não moram mais lá. Não é uma ditadura, é uma democracia. Precisa de vontade política e decisões em cima das vivências das pessoas. O gaúcho está no luto de uma tragédia. Agora, tem que reconstruir melhor, não colocar todo mundo no mesmo lugar, que foi atingido. E o setor público não pode ter escolas na beira do rio. Se planejou o Estado sem consultar comitês da bacia hidrográfica.
Como financiar?
A TVA se sustenta financeiramente, o dinheiro não desaparece no caixa único do Estado. A cobrança pelo uso da água. Cada metro cúbico teria um acréscimo de meio centavo ou algo do tipo para ficar na mão do comitê de bacias. Não é utopia. O consórcio intermunicipal dos rios de Piracicaba, em São Paulo, cobra e investe na bacia. Podemos fazer consórcios intermunicipais, intermediários entre governo do Estado e o localismo do município.
Ouça a entrevista completa no podcast Nossa Economia:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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