O jornalista Paulo Rocha colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
O apagão pelo qual passam parte de Porto Alegre e outras cidades após o temporal da noite de terça-feira (16) reacendeu cobranças políticas, jurídicas e econômicas sobre a CEEE Equatorial. O cerco inclui uma tentativa de instalação de CPI na Assembleia Legislativa e um pedido formal de explicações por parte da Defensoria Pública do Estado.
Na esfera econômica, empresários familiarizados com a cadeia do setor elétrico levantam dúvidas sobre a gestão envolvendo empresas terceirizadas. Nesta quinta-feira (18), a CEEE Equatorial divulgou em suas redes sociais imagens do desembarque de profissionais no aeroporto Salgado Filho, num clima quase futebolístico, o que gerou críticas na internet. Em entrevista ao Gaúcha Mais, o superintendente da CEEE Equatorial, Sergio Valinho, disse que eles vieram do Pará, Amapá, Maranhão, Piauí e Alagoas, Estados onde a Equatorial tem concessão.
— Um leigo vê isso e acha que vai ser a virada de chave. Eles (os funcionários de fora) vão chegar em Porto Alegre perdidos. São redes 10 vezes mais difíceis do que no Piauí ou no Maranhão — relata o dono de uma empresa do ramo da instalação elétrica com sede em São Leopoldo, acostumado a prestar serviço a concessionárias. Ele pediu para não ser identificado.
A coluna ouviu três empresários que conhecem os meandros da prestação de serviços terceirizados. Todos demonstraram surpresa com a notícia de que técnicos foram "importados".
— Dispensaram aqui várias pequenas e médias empresas que têm conhecimento da área. Que já sabem até qual chave de uma determinada rua sempre dá defeito — diz Oneron Beherens. Ele é dono de uma empresa com 28 anos de atuação.
O negócio dele, com sede em Porto Alegre, prestou serviços à CEEE por 10 anos até novembro do ano passado. O contrato foi encerrado sem maiores explicações. Após a rescisão, 25 funcionários foram desligados.
O problema não é exclusividade da CEEE Equatorial. Na área de concessão da RGE, outro empresário com atuação na Serra demonstra frustração por testemunhar problemas que ele poderia ajudar a resolver.
— Estou recebendo um grande número de ligações de clientes que fiz a instalação e não tenho como ajudar. Não tenho autorização para intervir na rede da RGE — relata Waldir Wille, dono de uma empresa de instalação elétrica em Gramado com 22 anos de experiência.
A coluna procurou CEEE Equatorial e RGE para saber mais sobre a terceirização do serviço. Mas, até a publicação deste texto, não recebeu resposta. A Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do RS (Agergs) afirmou em nota que não tem "ingerência sobre a gestão interna da concessionária e que a cobrança se dá em relação aos resultados e à qualidade do fornecimento".