A intensificação das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central começam a surtir efeito, com mais força, no mercado financeiro e na perspectiva para a economia do país. Ontem a bolsa de valores caiu 0,82%, na contramão do que foi visto no exterior. Outro efeito claro é no dólar, que subiu 0,50%, cotado a R$ 5,19 — também diferente do resto do mundo, onde a moeda norte-americana está em desvalorização.
Com isso, reduz-se a expectativa de que o dólar possa ficar abaixo do patamar simbólico dos R$ 5. A manutenção da taxa de juros em um patamar elevado e a indicação do banco central norte-americano de uma desaceleração do aperto monetário criaram um cenário favorável ao real. Mas a aversão ao risco, que se acentua, principalmente com as críticas à independência da instituição monetária brasileira, afastam investidores. Há também temor de que a meta de inflação seja reajustada para um patamar mais elevado, o que pode enfraquecer o real frente a outras moedas emergentes.
Além dos efeitos imediatos no mercado financeiro, há também impactos nas perspectivas para economia do país. Na segunda-feira, o boletim Focus, que apresenta as expectativas do mercado financeiro para os principais índices brasileiros, corrigiu e elevou a previsão de inflação em 2023 para 5,78%. É o quarto aumento seguido nas estimativas. Para 2024, a projeção de inflação subiu de 3,90% para 3,93%.
Se por um lado, Lula intensifica as críticas, por outro, integrantes do governo tentam reduzir os danos. O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um aceno positivo ao Banco Central e indicou que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi "amigável". Além disso, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, garantiu, por exemplo, que um aumento da meta de inflação não é um tema que esteja “pautado” na Fazenda.
O conflito entre Lula e o Banco Central também devem ditar os rumos do mercado financeiro pelos próximos dias.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna