Depois de 21 anos como ThyssenKrupp, a fábrica de elevadores de Guaíba foi vendida em 2020 e agora se chama TK Elevator. Além de produzir os equipamentos, a unidade de Guaíba, que tem 800 funcionários, também abriga um centro de desenvolvimento de novas tecnologias. Só no último ano, 50 engenheiros foram contratados para a equipe de inovação, que desenvolveu tecnologias que estão em espaços como o World Trade Center, em Nova York. O programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, conversou com Paulo Manfroi, CEO da TK Elevator.
Qual a estrutura da empresa hoje?
A ThyssenKrupp era a antiga Elevadores Sûr, uma empresa que nasceu em Porto Alegre e, depois, em 1965, veio para Guaíba. Desde então, vem passando por todas as situações econômicas junto do Rio Grande do Sul e do Brasil. É uma trajetória bastante longa. Eu gosto de dizer que é uma empresa de Guaíba, do Rio Grande do Sul, que alcançou o mundo. Nós conseguimos, com nosso trabalho, chamar a atenção do mundo e, hoje, somos globais, mas sem perder as raízes. Desde 1999, a antiga Elevadores Sûr passou a se chamar ThyssenKrupp Elevadores. Eu entendo que esses 21 anos foram fundamentais para levar ela para o mundo. No ano passado, nós mudamos de investidores e passamos a ser uma empresa independente que pertence aos private equities Civen e Advent, e, a partir daí, uma nova etapa da nossa jornada se desenrolou. O que mudou? Acho que a essência não mudou desde 1965, quando inauguramos a fábrica em Guaíba. Realmente, o negócio da empresa é sólido e consolidado. Durante o ano que passou, nos adaptamos a uma nova realidade de acionistas. Porém, seus produtos não mudaram, a sua equipe não mudou. O que mudou para nós, e sempre muda nessas transformações, é que passamos a ser uma empresa mais ágil, mais eficiente, com maior foco. Estamos trabalhando mais, porque realmente passamos a ser o foco dos investidores.
O senhor assumiu a presidência no meio da pandemia.
Sim, no meio da pandemia, da transformação. Foi justamente em abril de 2020. Eu tenho 35 anos de empresa, e esse é o perfil da maioria das pessoas que trabalham na gestão. São pessoas que estão aqui há muito tempo. Isso foi um processo evolutivo. Em abril de 2020, eu assumi a responsabilidade pela unidade de negócio América Latina, que é uma das cinco do mundo.
Assista à entrevista completa:
Em Guaíba tem fábrica e centro de pesquisas, certo?
Não somos somente uma fábrica de elevadores. Desde o ano passado, já vinha em um processo evolutivo, e, agora, Guaíba também é considerada um centro de pesquisa e desenvolvimento global da TK. Aqui, temos a fábrica da empresa, temos a equipe de gestão da unidade de negócio América Latina, e também um centro de pesquisa e desenvolvimento, que passou a ser global. Hoje, temos um engenheiro alemão que está comandando esse centro e ajudando a desenvolver nossa engenharia. E a nossa engenharia faz parte de projetos globais. Isso é um ponto muito positivo para nossa empresa porque deixamos de ser uma fábrica de elevadores, prestadora de serviços, para ser também um centro de desenvolvimento. E por que isso é bom? Hoje, temos cerca de cem engenheiros trabalhando nesse centro de pesquisa e desenvolvimento. Isso torna a empresa mais atrativa também para os engenheiros locais. Podemos dizer que estamos atualizados com desenvolvimentos mundiais, e muitos nos colocam na vanguarda. Anteriormente, tínhamos que esperar os desenvolvimentos chegarem até o Rio Grande do Sul. Hoje, estamos criando aqui no Rio Grande do Sul novas ideias, com engenheiros gaúchos, brasileiros. Temos também de fora, que desenvolvem e passam a ser os pioneiros dessas soluções que vão para o mundo todo.
Tem, inclusive, uma tecnologia nova produzida aqui e que terá produção global.
Exatamente. Nós temos nesse campo de tecnologia muitas novidades. Não são somente para o Rio Grande do Sul, mas para o mundo. E isso está alinhado com a estratégia da empresa. A principal estratégia é colocar o cliente no centro de tudo. Explorar mais a experiência do cliente do que a tecnologia do produto. Acho que a tecnologia do produto tem muito campo pela frente, porém a experiência do cliente, no mundo atual, toma um protagonismo muito grande. E, por isso, temos investido bastante nas soluções digitais. Tem essa que você mencionou. Temos dois pilares: diagnóstico do elevador, do tratamento das informações, inteligência artificial, e a outra é a experiência do cliente. Lançamos recentemente uma tecnologia que permite chamar o elevador através do celular. Pode ser iOS ou Android. É uma novidade muito legal e veio pela pandemia, na necessidade de as pessoas não tocarem em botões. Não ter contato com superfície contaminada. Através do telefone, você pode chamar o elevador e ele vem te atender. Eu próprio sou fã dessa tecnologia e me coloquei já a disposição para ser o pioneiro no edifício onde moro.
Sua equipe me comentou que você está testando a tecnologia no seu prédio...
Isso. Quando surgiu essa ideia, falei que queria ser o primeiro. Eu brinco com minha família que somos os primeiros no mundo a ter essa possibilidade. Existem muitas empresas que fazem a chamada de elevador através de smartphone, porém a nossa é diferente porque utiliza a nuvem. Você pode acionar sem precisar instalar nenhum novo dispositivo no elevador. Simplesmente, software. Se estou tomando meu café da manhã e vou sair de casa, posso antecipar um pouco e chamar o elevador. Fizemos o lançamento aqui no Brasil no mês passado.
Quantas pessoas trabalham na TK?
Em Guaíba, são cerca de 800 pessoas. Obviamente, temos empresas que prestam serviços. Então, esse número pode crescer. No Brasil, estamos chegando na casa dos 3,5 mil funcionários. Em toda a América Latina, podemos adicionar cerca de 2 mil funcionários. Temos cerca de 5,5 mil funcionários diretos trabalhando na unidade de negócio da América Latina.
Como estão os planos para operação gaúcha da TK? Alguma ampliação física ou de número de funcionários?
Somente no ano passado, contratamos mais de 50 engenheiros. Se você falar em 50 pessoas, talvez não seja muito representativo. Mas são 50 engenheiros que estão exportando tecnologia, projetos, novas ideias. Nesse momento específico, estamos de olho na retomada, e estamos otimistas. Temos a perspectiva de investir em máquinas a laser, o que nos permitirá ampliar a produção, não só para exportação para América Latina - hoje nossa fábrica atende do México ao Chile -, mas também para novos países. Nesse momento, estamos com um investimento moderado, no movimento de retomada, e observando como a economia vai responder ao crescimento. Estamos bastante otimistas. O ano passado foi bastante difícil para todos, porém tivemos êxitos na nossa jornada. E eu digo "ano passado" porque nosso exercício começa em outubro. Vai de outubro a setembro. Finalizamos o ano em setembro, e estamos iniciando uma nova jornada. Temos um investimento moderado e acreditamos que nossa empresa deva crescer de 8% a 10% em faturamento. E os investimentos vão de acordo com o crescimento da economia.
Além de chamar o elevador pelo celular, vocês desenvolveram uma tecnologia no espelho.
É a Agile Mirror. É um espelho no fundo da cabina que passa a ser interativo. Seria como um grande tablet, onde você pode interagir com ele, chamar o elevador no espelho, ver algumas notícias. Pode ver a coluna da Giane [risos], a previsão do tempo. Também é uma ideia bacana que já vendemos vários no Brasil. Foi lançado nesse ano. Estamos exportando para os Estados Unidos, para o World Trade Center e também para a Europa.
Eles são fabricados aqui? Ou é a tecnologia?
Especificamente esses que comentamos são produzidos aqui.
Percebe que minhas perguntas tem sempre foco regional, presidente...
Eu acho que isso é importante. A nossa empresa também traz conhecimento para região.
Fico contente quando falo de novos centros de pesquisa no Estado. Essa inteligência é importante termos no Rio Grande do Sul.
Sim, porque isso também é negócio. Você produz software. Nós temos, dentro desse corpo de pesquisa e desenvolvimento, uma equipe só de software para elevadores, que produz soluções globais, que podem ser utilizadas, inclusive, na China. Passamos a ser atrativos também no ponto de vista de conhecimento para os jovens que estão no mercado, porque não precisam sair do país para se desenvolver profissionalmente. E é um negócio para nós, assim como produzir elevadores.
Como fica a TK dentro da conjuntura econômica? Temos falado muito dos insumos, do frete marítimo, aço, semicondutores. Como a TK navega no meio dessa situação?
Desde o início da pandemia, não tem sido fácil. São desafios gigantes que temos que superar, mas graças a Deus, acho que estamos superando bem. A nossa empresa tem uma particularidade que são seus três pilares. Um seria a venda de elevadores novos. Outro, a própria indústria, onde temos um investimento gigantesco, com mais de 30 mil metros quadrados construídos. E o terceiro é a prestação de serviços. Sofremos no início da pandemia em todos os negócios. Depois, a construção civil começou a reagir positivamente. Muitos edifícios foram e estão sendo construídos, de uma maneira até acima do normal. Por outro lado, a área de serviço sofreu uma retração, principalmente naqueles clientes mais corporativos, como aeroportos. Hoje, somos responsáveis pelo aeroporto de Guarulhos, de Galeão, de Porto Alegre. Hotéis também sofreram retrações muito grandes. Shoppings centers também. Isso, por um lado, também foi um pouco difícil para nós. E agora, está tendo uma retomada. No meio de tudo isso, tivemos o aumento de custo da matéria-prima de uma maneira vertiginosa. Não só o aço, como outros componentes também. Tivemos que administrar isso de maneira a não perder a competitividade. Aí, vem a engenharia nos ajudar com inovações e soluções inteligentes que reduzam o custo de matéria-prima. Isso tudo superamos. E agora, estamos, de certa forma, sofrendo com o custo de frete marítimo, falta de contêineres, escassez de componentes eletrônicos. E vamos equilibrando essas dificuldades muitas vezes com reservas de estoque, de alongamento de prazos. Mas, felizmente, eu diria que estamos passando muito bem a pandemia. Outro detalhe importante é que não temos só a fábrica de elevadores e o software. Temos também uma área que chamamos de Centro de Serviços Compartilhados. Todas as operações administrativas da empresa do México ao Chile, dos 13 países que representamos, são processadas aqui, onde temos cerca de 350 pessoas trabalhando, inclusive call center que atende com pessoas de língua espanhola para México, Colômbia, Chile, Argentina. Esse pessoal - que também é geração de emprego para o Rio Grande do Sul, é ISS - sofreu um desafio imenso. Elevadores funcionam 24 horas por dia, 365 dias por ano. E já no primeiro dia de pandemia, tivemos que esvaziar nosso prédio. Mas como tirar nosso call center que atende toda a América Latina e mandar todos para casa? Felizmente, nossa área de TI (tecnologia da informação) é muito avançada e conseguimos fazer com que o centro de serviços funcionasse remotamente sem praticamente nenhuma interrupção no atendimento. Hoje, já retomamos 70% da atividade no local, ainda existe 30% em home office.
Ouça a entrevista no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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