Desde o início da pandemia, com o isolamento social e decretos de governos, várias empresas tiveram ou mesmo tomaram a iniciativa de fechar, temporariamente, suas lojas físicas. Uma saída foi o uso da internet para continuar vendendo. Algumas já tinham experiência, mas outras aceleram agora a entrada no mundo digital. Os serviços de entrega, mais chamados agora de delivery, ou de retirada na loja também são um desafio para a operação.
Para trazer orientações sobre o assunto, o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com o consultor e professor de marketing da FGV / Decision, Thomas Hartmann. Confira:
Qual a primeira coisa que o empresário precisa fazer para colocar seu negócio na internet?
Se a empresa ainda não tem ação alguma no meio digital, a primeira coisa que eu recomendo é que entre no Google Meu Negócio, que é uma ferramenta gratuita cedida pelo Google. Quando alguém procura por alguma categoria de serviço, como padaria, loja de roupa, o que quer que seja, os primeiros resultados que o Google mostrará serão, depois dos pagos, aqueles vindo do Google Meu Negócio. E ele já tenta apresentar estes resultados baseados na geografia. Ou seja, as lojas ou os negócios mais próximos fisicamente da pessoa que está procurando serão os primeiros a aparecer. É só procurar Google Meu Negócio e se cadastrar. É importante, também, fazer o cadastro da forma mais completa possível. Com nome do negócio, categoria. O Google permite cadastrar até 10 categorias diferentes. Você pode colocar por exemplo "local para eventos", "padaria", "confeitaria". Quanto mais categorias, melhor. Importante também colocar o número do telefone, o endereço, e dizer no descritivo que está fazendo entregas nesse momento. Inclusive, o Google liberou a possibilidade de a empresa inserir que faz delivery no nome do negócio. Isso chama a atenção do consumidor, que clica ali para saber um pouco mais. É bom também inserir fotos. Quanto mais, melhor. Existem alguns estudos que demonstram uma relação clara entre quantidade de fotos e volume de acessos. Além disso, o Google Meu Negócio vai aparecer tanto no resultado de busca do Google, como no Google Maps.
E é bom para todos os tipos de negócios?
Sim. E ali você consegue até cadastrar os produtos da loja com os preços, como se fosse um catálogo online. Vale lembrar que 60% das pesquisas do Google já não saem do Google, se resolvem ali dentro mesmo. Então, se você coloca um produto e o serviço já com os preços, eventualmente as pessoas já vão ligar direto, ou enviar uma mensagem para o WhatsApp cadastrado, e começar o contato com a marca, com a empresa. É o primeiro local para onde eu iria. Claro que não é o único, mas é o primeiro. Eu tenho implementado, via Sebrae, em alguns projetos, como vinícolas da Serra ou outras atrações turísticas. E a gente vê um crescimento absurdo no acesso dessa ferramenta específica. Mas cadastrar em outros diretórios também é fundamental, como TripAdvisor ou algum outro desses sites que fazem listas de empresas. Você pode, claro, criar a página da empresa no Facebook, um perfil no Instagram e abrir, claro, o canal de comunicação pelo WhatsApp. Serão essas as ferramentas com maior uso agora.
E os chamados marketplaces?
De forma alternativa, também é interessante buscar todos os marketplaces, que são empresas que funcionam como intermediárias para vendas de fornecedores locais para consumidores, como iFood, Uber Eats, Rappi. Todas essas empresas, inclusive com o apoio nacional do Sebrae, têm criado fundos e condições diferenciadas para pequenos negócios. Por exemplo, o Uber Eats já permite que o restaurante que comercializar pelo aplicativo receba no mesmo dia, e não 30 dias depois, desde que não tenha filiais.
Agora, vamos falar especificamente sobre o delivery. Qual a orientação para empresas que querem adotar a modalidade de entrega?
O delivery tem alguns pontos que exigem cuidado. Você pode ter um delivery próprio, com a venda direta e sem pagar comissão. Ou realizá-lo por meio de aplicativos como Rappi, Uber Eats e iFood. Nesse, claro, você vai pagar uma comissão, então tem que já preparar sua formulação de preços para considerar esse custo. Além disso, é importante destacar em todas publicações quais são as medidas de segurança que você tem tomado no momento. A principal é a higienização, desde o preparo do alimento até a entrega em si. Você pode combinar uma entrega, como alguns aplicativos têm feito, sem contato físico, e deixar isso bem claro, em todos os canais. Mas é importante equilibrar e não colocar todas as fichas na entrega por aplicativos. Eles são importantes porque já têm uma base importante de usuários, mas cada negócio local também tem um cadastro de clientes. E se conseguir atendê-los sem aplicativo, e, portanto, sem comissão, serão ainda mais atrativos para seu negócio no momento.
Quais são os pecados que não podem ser cometidos no momento?
Algumas coisas não devem ser feitas no meio digital agora. A primeira é deixar de publicar. Se você ficar em silêncio neste momento, quando muitas pessoas estão acessando os canais digitais, estará perdendo uma oportunidade tremenda, não importa qual seja seu negócio. A segunda pior coisa que você pode fazer é demostrar desespero nos canais digitais ou algum tipo de promoção que pareça que você está se aproveitando do momento. O ideal é demonstrar empatia e que você está trabalhando em prol da sociedade. Há empresas fazendo parcerias online que demostram ajuda à comunidade, o que é bem visto pelos consumidores.
Falamos bastante de varejo, mas e a indústria? Tem alguma maneira de ela usar as mídias digitais a seu favor também?
A indústria realmente é um caso diferente. O que pode ser feito é manter a comunicação com os clientes empresariais. Então, você pode organizar conversas, reuniões onlines por meio de plataformas como Skype e Zoom. Esse contato, dizendo o que você está fazendo, quais são as medidas de contenção, para garantir que não haverá uma quebra na cadeia de suprimentos, isso tudo pode ser feito a distância. Adicionalmente, indicaria ferramentas como LinkedIn, onde muita gente está pesquisando para saber como a economia vai se comportar.
Para terminar, uma última dica?
Você pode vender vouchers, por exemplo, para um consumo futuro.
Ouça mais orientações do especialista na entrevista ao programa Acerto de Contas. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha. Ouça aqui:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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