Tinha 21 anos de idade – quinze a menos do que o peso de minha mochila (cheia de livros, que precisei ir dispensando à beira do caminho) –, quando cruzei os Estados Unidos de carona. Fui de Nova York a São Francisco, refazendo a rota que o escritor Jack Kerouac havia percorrido em 1947, e iria resultar na obra-prima On the road/Pé na estrada, que eu estava destinado a traduzir. Cheguei em San Francisco dois meses depois de apontar meu polegar naquela direção: não tinha pressa, então fui pingando ao longo da odisseia. Instalei-me num albergue mantido pelo Exército da Salvação. Uma campainha estridente soava às 7 da matina: você tinha que saltar da cama, arrumá-la e se mandar dali; só podia voltar às 19 horas e se até as 22 não estivesse dentro, ficava fora.
“arte insurgente”
O poeta norte-americano que desafiou gente baixa de alto calibre morreu aos 101 anos. Sua obra viverá para sempre
Lawrence Ferlinghetti, um dos pais fundadores da Geração Beat, foi um dos editores mais combativos e sensíveis do século 20
Eduardo Bueno