Foi num dia 21 de junho, como hoje, só que há 694 anos.
Claro que para os astecas não era 21 de junho, muito menos do ano de 1325 da era cristã. Era data bem mais significativa (e ancestral): era o mais longo dia do ciclo de 365, chamado xiuhpohualli, e no qual se celebrava, como na Europa, o solstício de verão. Os astecas – e seus vizinhos – eram obcecados pelo tempo e por sua passagem. Nada faziam sem consultar os astros. Não iriam, portanto, fundar a cidade que viria a se tornar sua capital sem escolher dia, hora e local com precisão. E foi assim, ao raiar de 21 de junho de 1325 (segundo o calendário cristão, claro), numa ilha do lago salgado (e sagrado) Texcoco, no coração do vale do México, que eles fundaram Tenochtitlán.
Ela estava destinada a ser a maior cidade do mundo. Lógico que para os astecas sua metrópole não nasceu em 21 de junho de 1325. Mas com certeza foi em 13 de agosto de 1521 que ela feneceu – para renascer como a caótica e turbulenta Cidade do México dos dias de hoje. Tenochtitlán era um prodígio arquitetônico, uma proeza urbanística. Tinha pelo menos 700 mil habitantes – alguns historiadores falam em 1 milhão. As maiores cidades do mundo "conhecido" eram Constantinopla, Cairo e Pequim, com cerca de 600 mil cada. E nenhuma delas era tão harmônica, florida, funcional e linda quanto a capital dos astecas. Tenochtitlán despontava como metrópole anfíbia: toda com ruas aquáticas, onde navegavam milhares de barcos, possuía jardim botânico e zoológico, mercados fartos, largas avenidas, aquedutos imensos e suntuosos templos.
Em 8 de novembro de 1519, o imperador Montezuma levou o recém-chegado capitão espanhol Hernán Cortez ao topo do Templo Maior. Embora a vista lá de cima fosse deslumbrante e revelasse todo o poderio dos (também sanguinários) astecas, Cortez não se interessou por nada do que viu. Só falava em ouro, ouro, ouro. Quando Montezuma indagou por que tanta obsessão pelo metal que os astecas julgavam sagrado, mas pelo qual não eram obstinados, Cortez respondeu: "É que nós, espanhóis, sofremos de uma doença do coração que só o ouro pode aplacar".
Acho que o bravo conquistador decidiu dizer isso para comover, ou enganar, ou debochar daquele tolo "selvagem". Seja qual fosse a intenção do militar que logo iria exterminar os astecas, sua resposta não poderia ter sido mais reveladora: a doença que Cortez mencionou de fato existe e atinge o coração de muita gente, não só o dos espanhóis do século 16. Chama-se ganância.
E dizem que, além de contagiosa, é letal.
PS - O dia 21 de junho é o solstício de verão no Hemisfério Norte, onde fica o México. No Hemisfério Sul, é o solstício de inverno. "Inverno" era uma estação na qual fazia "frio" – isso antes do fenômeno chamado "aquecimento global", causado por uma série de circunstâncias, entre as quais uma doença denominada "ganância", que ataca o coração. E que não pode ser curada com ouro.