Ufa, graças aos deuses, não passou de um pesadelo. Tudo o que julguei houvera sido real, tratava-se só de sonho mau. Sim, fui dormir na quinta-feira passada, dia 4 de outubro, e, ao longo da madrugada, visões medonhas e aterradoras me assombraram: vislumbrei um país cheio de delegados, pastores evangélicos, majores, sargentos e cabos, boa parte deles retrógrados e iletrados, alçados ao poder; vi gente que censurou exposição de arte se elegendo em primeiro lugar, vendedora de sofá obtendo votação maciça, ex-ator pornô bombado e boçal entrando na Câmara, apresentador de programa de TV que sempre foi fracasso fazendo sucesso nas urnas, príncipe virando sapo e ratos, ratões e ratinhos roendo o quarto todo. Acordei em sobressalto. Mas, então, feito milagre da física quântica, o calendário marcava 15 de outubro. Era estranho, mas reconfortante: tudo o que se passara do dia 5 ao dia 15 – incluindo o domingo, dia 7 – simplesmente não havia existido. Ou, se existira, fora varrido do tempo e riscado do mapa.
Brancos e nulos
E se apagássemos os últimos 10 dias do calendário?
Foi o que ocorreu entre 4 e 15 de outubro de 1582, período que foi ignorando
Eduardo Bueno