Antes, imaginava-se que o apoio dos torcedores árabes nesta Copa do Mundo seria destinado a estrelas muçulmanas, e não a seleções. Por uma razão óbvia: nem o mais otimista dos otimistas cravaria um país devoto de Alá além da primeira fase — que dirá nas quartas de final, como Marrocos.
Mohamad Salah, que seria o número 1, ficou de fora da Copa, vitimado pelo Senegal de Sadio Mané, número 2 na hierarquia da craqueza muçulmana. Por azar, Mané lesionou-se poucos dias antes de a bola rolar aqui no Catar. Benzema, o terceiro dessa lista, não tão venerado como Mo’Salah e Mané pelo fato de sua conduta não ser a de um islâmico 100%, por assim dizer, também se machucou às vésperas do Mundial.
Assim, restaram os times. A Arábia Saudita deu na trave, após vencer a Argentina, mas foi eliminada na primeira fase. Sobraram os marroquinos, que se tornaram os queridinhos da Copa. O Mundo Árabe está com eles. O emir do Catar, Tamin Bin Hamad, desfraldou uma bandeira do Marrocos em seu camarote assim que a Espanha restou eliminada.
Na primeira Copa do Oriente Médio, um país muçulmano derrubar uma potência ocidental. Um simbolismo e tanto. A cultura marroquina tem influências europeias, a começar pelo francês, idioma adotado em larga escala, mas tem muita influência árabe. A religião predominante é o islã, e as línguas oficiais são o árabe e tamazigue.
Não há como não se emocionar com os marroquinos. É muito difícil se classificar para uma Copa pelas eliminatórias africanas. São muitos países (54) para poucas vagas (cinco). Como é muito jogo, o sistema de disputa prevê muitos mata-matas. É uma carnificina futebolística, no sentido figurado.
Chegar às quartas, então, é milagre de Alá. Marrocos faz apenas a sua sexta participação em Mundiais. A alegria dos marroquinos andando por Doha é bonito de ver. Algo assim amador, genuíno, mais romântico. Se eliminar Portugal, nem sei do que serão capazes. Por tudo isso, Marrocos virou o queridinho da Copa e o segundo time de todo mundo, pelo fato de ir despachando azarões.