Doha tem esquisitices. Aqui é tudo muito limpo, mas há moscas. Muitas. A proporção de cachorros e gatos é de um para cem. Os gatos estão em todos os lugares, ao passo que é raro ver um cusquinho. Você pode estar no restaurante chique e ouvir miados embaixo da mesa. Os bichanos surgem na sala de entrevistas do CT da Seleção. Equilibram-se no monitor da TV que passa os jogos. Esgueiram-se entre fios e laptops. São de casa. Ninguém os expulsa. Reza a lenda que Maomé tinha predileção por gatos a cães. Está explicado.

Praia metida

Entramos ao vivo no Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, Alice Bastos Neves e eu, de um beach club, o B-12. Praia chique. O gerente explicou que a experiência do espaço seguia o padrão jordaniano. Pelo tom, era para ser elogio. Para entrar, R$ 300 — R$ 150 de ingresso e R$ 150 de consumação. Cabanas de palha, espreguiçadeiras fofinhas, música, boa estrutura, garçons e seguranças a varrer. Lugar limpo, agradável, seguro, apesar da faixa estreita de areia e o mar sem uma ondinha sequer em West Bay.

Suco em pó chique

Jornalistas credenciados não pagam, então a Alice e eu escapamos desse assalto de ostentação. Para não ficar chato, a Alice resolveu comprar ao menos algo para beber, em vez de sacar as garrafinhas de água que levamos na mochila. No primeiro gole, a certeza de que não era limonada com hortelã coisa nenhuma, conforme dizia o cardápio balaqueiro, e sim suco em pó do super. Um copo por R$ 60. Há outros beach clubs mais caros em Doha. Que coisa. 

As dancinhas

Tem de ser muito chato e ignorante sobre as origens de um país como o Brasil, abençoadamente miscigenado e alegre apesar das mazelas e dores, para ver provocação nas danças da Seleção a cada gol. Ou é polêmica superfaturada para engajar, na vale-tudo por visualizações, audiência e seguidores? Quem sabe herança do colonizador branco, que se irrita ao ver negros como Vini Jr e Richarlison tão melhores e ricos do que eles jogando futebol? Talvez um pouco de tudo, mas a forma como certos assuntos vêm e vão só pelo fato de ir e vir, sem aprendizado algum, desanimam.

Isso é Copa

Marrocos tinha um técnico bósnio, Vahid Halilhodzic, que brigava com suas estrelas. Liderados pelo genioso atacante Hakim Ziyech, do Chelsea, houve rebelião. A Federação ficou ao lado do técnico e afastou os rebeldes, mas até perder. 

Vahid foi trocado pelo marroquino Walid Regragui. E não é que os revoltosos eliminaram a badalada Espanha, com gol de Ziyech nos pênaltis? Metódicas e científicas, Espanha e Alemanha estão fora. Os marroquinos, entre tapas e beijos, dentro. Isso é futebol. Isso é Copa.