Quando me mudei para os Estados Unidos, a fim de participar do estudo de uma nova droga contra o câncer, sentia-me no fim das forças. Várias partes do corpo me doíam e eu não conseguia nem caminhar direito. No hospital Dana-Farber, em Boston, sentei-me diante do médico que coordenava a pesquisa, o alemão Patrick Ott, e ele me disse, sem rodeios:
— Pelo que apuramos até agora, esse remédio tem 28% de chances de funcionar.
Ou seja: eu tinha 28% de chances de sobreviver. Saí dali raciocinando da seguinte forma: 28% parecem pouco, se você pensar nos outros 72%. Só que, se eu estiver dentro dos 28%, não são 28%: são 100%.
Talvez você considere o meu raciocínio tortuoso. Pode ser, mas é verdadeiro. Afinal, alguém fica dentro dos 28%. Por que não eu?
Pois fiquei. A resposta do meu organismo à droga foi excelente e, agora, cá estou, bebendo meus chopes cremosos.
As estatísticas são assim, servem para fazer estimativas e especulações, mas não são a realidade. Se eu e você temos um frango, cada um de nós tem 50% do frango. Logo, nenhum de nós sentirá fome. No entanto, se eu comer o frango sozinho, você não comeu frango algum, coitado. E ficou com fome.
Digo isso em relação aos cálculos das possibilidades de o Grêmio se salvar do rebaixamento nessa quinta-feira. Noventa e sete vírgula cinco por cento de chances de cair, foi o que li. Na prática, rebaixado.
Será?
O que a realidade mostra?
Do que o Grêmio precisa?
Bem, em primeiríssimo lugar, precisa vencer o Atlético Mineiro na Arena. O Atlético vem com o time reserva e o Grêmio está muito mais interessado no jogo. Logo, a lógica diz que o Grêmio vencerá a partida.
Se o Grêmio de fato vencer, ainda necessitará de dois resultados combinados: a vitória do Corinthians sobre o Juventude, em Caxias, e a do Fortaleza sobre o Bahia, no Ceará.
O Fortaleza é o favorito para vencer. Estará no Castelão, diante da sua torcida entusiasmadíssima com a campanha histórica do time no campeonato.
O mais difícil é o jogo do Juventude. Há quem diga que o Corinthians buscaria um empate exatamente para rebaixar o Grêmio. Não creio nisso. O Corinthians já fez seu papel ao empatar com o Grêmio em São Paulo. Nesta quinta, pensará em si mesmo, o que, aliás, é bastante saudável.
Quer dizer: o Corinthians pode, sim, bater o Juventude. Seria, inclusive, o resultado mais óbvio.
Portanto, a lógica do futebol está ao lado do Grêmio, não contra. As chances de sobrevivência, eu diria, não são apenas de 2,5%. São bem maiores, talvez uns 50%. É um bom percentual. Desde que o Grêmio esteja dentro dos 50% certos.