A todo instante alguém descobre o problema do Brasil. A pessoa diz: “O problema do Brasil é que...” E nas reticências encaixa uma de nossas mazelas, que são tantas...
Eu brincava que o problema do Brasil não é a miséria, e sim a interpretação de texto. Mas fui mal interpretado, então parei de fazer essa brincadeira.
Agora, sério, vou dizer qual é o maior problema do Brasil: somos nós, homens.
Já contei aqui sobre minha experiência na Fase, não? Contei, mas repito. Fui diversas vezes à Fase para dar palestras aos internos e tal. Pois bem. Conversando com os meninos que lá estão recolhidos, nunca encontrei um único que tivesse a família constituída, pai e mãe cuidando dele, como deve ser. Na maioria dos casos, o menino tinha uma mãe mais ou menos atenta e um pai ausente, que ele não conhecia, ou que era violento ou bêbado ou drogado.
O mesmo você vai constatar se falar com as crianças que estão debaixo das sinaleiras, pedindo moedas ou vendendo balinhas. E, se for a uma das várias vilas de Porto Alegre e procurar os meninos que estão rolando soltos pelas ruas, verá idêntica situação.
Grande parte das famílias brasileiras pode até ter um homem, mas não tem um pai. Em algum momento da história do Brasil, os homens se desconectaram dos valores familiares. Isso fica demonstrado inclusive pelos casos de violência doméstica, que parecem aumentar a cada dia. O homem não cultiva um sentimento paterno, nem de companheiro da mulher que está com ele. Ele cultiva um sentimento de posse. Ele é proprietário daquelas pessoas. Ele não tem que cuidar delas, ele quer dispor delas.
A decadência da família brasileira é a causa da decadência moral do Brasil. Por isso somos cínicos, inconfiáveis e manhosos. Por isso somos capazes de roubar até na vacina que salva vidas.
Houve época em que os homens se orgulhavam de trabalhar duro para sustentar suas famílias. Meu avô era assim. O trabalho o engrandecia. Mas, de repente, os homens passaram a se ver como vítimas – o trabalho duro, em vez de ser encarado com orgulho, passou a ser aviltante, e os homens começaram a procurar expedientes para sobreviver. Não poucas vezes, expedientes fora da lei.
O que produziu esse nosso afrouxamento moral? O que tornou raros os pais do Brasil?
Tínhamos que descobrir as respostas a essas perguntas, porque elas são centrais, elas podem apontar um caminho para o futuro.
O Brasil não precisa de heróis, de mitos ou de salvadores da pátria.
O Brasil precisa de pais.