Bolsonaro é uma pessoa horrível. Ontem mesmo escrevi sobre a necessidade que os brasileiros têm de compreender os eleitores de Bolsonaro. Continuo pensando assim. É preciso entender por que as pessoas votaram nele, é preciso entender o que ele representa para elas. É fundamental prestar atenção nesses anseios e levá-los a sério, porque todos temos de conviver, no Brasil. Os petistas não foram expulsos do país com a vitória de Bolsonaro e os bolsonaristas não serão expulsos, se Bolsonaro perder a próxima eleição.
O Brasil clama por paz.
Então, repito, o eleitor de Bolsonaro deve ser compreendido e respeitado.
Mas o eleitor de Bolsonaro também deveria refletir sobre o homem que elegeu para presidente da República. Não para fazer um mea culpa, ou algo do gênero. Nada disso. Não existe culpa no voto, existe uma intenção. O eleitor dá um recado, ao votar. Se o candidato, depois de eleito, atende o que o eleitor espera, bem, aí é outra história.
O ideal é que o eleitor não se torne fiel a um candidato, a ponto de relegar seus erros. Infelizmente, essa é a tradição brasileira. Desde os tempos da colônia nós estamos acostumados ao populismo, a esperar que um grande líder resolva nossos problemas. Não é assim que funciona. Essa fórmula jamais deu certo em lugar algum do mundo e em tempo algum da história. Um povo só forma uma nação de fato quando ele, povo, conduz o seu destino.
Para que isso aconteça, é indispensável saber julgar os governantes com independência. Se ele errou, critique; se acertou, aplauda.
Como o eleitor de Bolsonaro pode aplaudir, por exemplo, o que ele tem feito em relação à pandemia de coronavírus? A polêmica ridícula da cloroquina, o desprezo da máscara, os péssimos exemplos, a demissão de ministros da Saúde, a negação da ciência, a subestimação da doença que já matou mais de 160 mil brasileiros, tudo isso é terrível, mas o que aconteceu no início desta semana ultrapassou os limites da decência.
Os testes da vacina Coronavac foram paralisados pela Anvisa sob a alegação de que um “evento adverso grave” ocorrera com uma das pessoas que participavam do estudo. A paralisação, em si, gerou suspeitas, porque o evento adverso grave foi um suicídio. Isso mesmo: a pessoa que tomou a vacina tirou a própria vida, o que dificilmente pode ser classificado como efeito colateral.
A decisão inusual gerou a desconfiança de que ela foi tomada por razões políticas: como Bolsonaro teme a concorrência do governador de São Paulo, João Doria, na eleição de 2022, ele poderia ter influenciado o diretor da Anvisa a suspender os testes da vacina paulista. Só de pensar que isso possa ser verdade já causa asco. Assim, melhor nem cogitar dessa possibilidade.
Mas a situação fica ainda pior. Porque Bolsonaro COMEMOROU a morte do participante do estudo, o que teria ocasionado o suposto fracasso da vacina. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu ele, em uma rede social. Ou seja: o presidente do Brasil estava TORCENDO CONTRA uma vacina que poderá proteger cem milhões de brasileiros de uma doença assassina. Pessoas morrendo, pessoas sofrendo nos hospitais, famílias de luto, a economia em frangalhos, e Bolsonaro pensando na reeleição, comportando-se como uma criança egoísta, rancorosa e cruel.
Sim, bolsonarista: Bolsonaro é uma pessoa horrível.
É verdade que a corrupção sofisticada causa terríveis danos a um país. Mas a maldade vulgar pode causar muito mais.