Um dia, o rei da França, Luis XIII, foi obrigado a fazer amor com sua própria mulher. Nenhum dos dois gostou da ideia, porque se detestavam. Ela se chamava Ana d’Áustria e, apesar do nome, na era d’Áustria, era d’Espanha. Precisamente por isso, por suas origens, Luis a considerava uma inimiga. É que, naqueles anos, Espanha e França viviam em guerra. O casamento havia sido contratado, justamente, como uma espécie de pacto de paz entre os dois países, com os noivos ainda muito jovens – ele tinha 14 anos e, ela, 10.
Durante quatro anos, eles mal se viam no palácio do Louvre. O rancor só crescia entre o casal, todas as damas de companhia de Ana eram espanholas e ela nem fez questão de aprender a falar francês. Aí, o conselheiro do rei, o Duque de Luynes, começou a trabalhar para que o matrimônio se consumasse – era necessário, para que fosse gerado um príncipe herdeiro. Tanto o conselheiro insistiu que o rei aceitou cumprir suas obrigações. Deitou-se com Ana pela primeira vez. E gostou!
Ana é descrita como uma mulher graciosa e, de fato, se você observar um dos quadros em que ela foi retratada, verá uma morena alta e esguia, de feições delicadas e olhar levemente insinuante. Depois daquela primeira noite, Luis tomou-se de afeição por ela. Pena que a recíproca não fosse verdadeira. Ana continuou sentindo certa aversão ao rei e chegou a planejar uma conspiração para derrubá-lo. Luís descobriu tudo e manteve a coroa sobre a cabeça. E, como realmente nutria bons sentimentos pela rainha, a perdoou, embora a tivesse mandado para outro palácio, a distância segura.
As coisas ficaram assim malparadas, ou completamente paradas, por 16 anos, até que o novo conselheiro do rei, o famoso Cardeal de Richelieu, aquele dos Três Mosqueteiros, lembrou que aquele problema antigo, da sucessão, ainda não fora resolvido. Então, arranjou um encontro entre o rei e a rainha, eles passaram a noite no mesmo castelo e... gol do Brasil! Ou, no caso, da França. Ana ficou grávida.
Essa a versão oficial. A oficiosa é outra: a de que o breve interlúdio do casal real não havia sido fértil o suficiente para gerar um rebento. Assim, Richelieu providenciara um nobre de sangue real, parente do rei, para plantar na rainha a semente do novo delfim da França.
O tal nobre, depois de realizada a doce tarefa, foi mandado para uma das colônias da França, o distante Canadá. Passados alguns anos, ele resolveu voltar. Nessa época, seu filho já havia sido empossado – tratava-se, nada menos, do que Luís XIV, o Rei Sol.
Quando o homem chegou a Paris, quem o viu, se espantou: ele era igualzinho ao rei! E agora? A simples presença daquele homem nas imediações da corte era uma ameaça à coroa. O que fazer com ele? Houve quem aconselhasse Luis XIV a eliminá-lo fisicamente, mas ele não ia fazer isso com o próprio pai. A saída foi mandar prendê-lo e, para que ninguém o reconhecesse, cobrir seu rosto para sempre.
Essa história inspirou Alexandre Dumas a escrever o famoso romance “O Homem da Máscara de Ferro”. Dumas exagerou um pouco. A máscara não era de ferro, era de veludo, e o prisioneiro sempre foi muito bem tratado. Tinha tudo o que pedia. Ele só não podia tirar a máscara em nenhuma circunstância, ou seria executado de imediato. O coitado viveu assim durante 34 anos. Quando morreu, enterraram-no sob nome falso, em lugar não sabido.