Incomoda-me um pouco quando o jornalista se acha herói. Quando ele quer salvar o mundo. Porque aí ele deixa de ser jornalista para se tornar ativista. No momento em que o jornalista adere a uma causa, mesmo que seja uma causa justa, ele passa a enfrentar o drama do conflito de interesses. Ele defende um lado. Logo, uma verdade inconveniente para aquele lado pode ser omitida, atenuada ou até modificada, ainda que não seja essa a intenção consciente do jornalista.
Se o jornalista quer mudar o mundo, transformando-o em um mundo melhor, o jornalista não deve tentar mudar o mundo: deve mostrar o mundo como ele é. Desta forma, o público verá a realidade e, ele sim, trabalhará para transformá-la. O papel do jornalista não é promover mudanças, é dar informação para que haja mudanças, se a sociedade assim o quiser.
Escrevo isso para o ouvinte ou leitor que reclama quando entrevistamos alguém com quem ele, ouvinte ou leitor, não concorda. Aconteceu há pouco, na entrevista que fizemos com o ex-presidente Lula, no Timeline, da Gaúcha. Muitas pessoas ficaram insatisfeitas pelo espaço que demos a ele, como outras ficaram insatisfeitas quando ouvimos Bolsonaro, Temer, Collor, Fernando Henrique e Sarney.
Temos a obrigação de ouvir todos, temos a obrigação de mostrar tudo o que está acontecendo, porque não podemos nos arrogar a tutelar o público. Seria uma presunção. Seria subestimar a inteligência do consumidor de informação. Lula falou, como Bolsonaro falou e outros falarão. Somos apenas o veículo. Levamos a informação a você. Você tira suas conclusões.