Elói Zorzetto escreve no lugar do colunista David Coimbra, titular deste espaço, que está em férias
Um dia desses, durante um intervalo, estava tomando um café no bar da RBS TV com o colega Giovani Grizotti. A conversa com ele é sempre muito interessante, produtiva e agradável. O Giovani é um dos jornalistas que mais admiro por seu histórico e por suas inúmeras qualidades, que o tornam um dos profissionais mais respeitados do país. Perguntei quais seriam nossas próximas pautas investigativas para o RBS Notícias. Sem hesitar me relacionou várias, fundamentadas em detalhes, com fontes, provas, depoimentos. Todas ligadas à corrupção, como a maioria publicada pelos colegas do nosso Grupo de Investigação da RBS (GDI).
Terminamos nosso café e o curto bate-papo nos questionando sobre as infinitas horas de trabalho, com investimento de tempo e recursos em denúncias e flagrantes de irregularidades, ano após ano. E fica a sensação de que tudo parece em vão, tudo se repete. Mudam os personagens, o endereço, o cargo. Aliás, algumas pessoas refazem os mesmos caminhos que levaram tantas outras a serem investigadas, denunciadas e condenadas com a certeza de que não serão descobertas. Tudo isso para conseguir alguma vantagem, mesmo que isso signifique tirar dinheiro de pessoas pobres, sofridas, sem qualquer recurso. O mais grave é que, muitas vezes, a prática se dá justamente com quem deveria fiscalizar e zelar pelo bem público.
Ao que parece, quanto mais lucrativa a corrupção, mais ela se propaga. E não ocorre somente em altos escalões. Quem reclama das grandes ilicitudes e pratica as pequenas é tão corrupto quanto. Só lhe falta a oportunidade. E quando a encontra, a tendência é de que faça um estrago muito grande.
O Brasil não é o único país com altos índices de corrupção. Existem muitos outros tão ou mais desonestos e que, ao que parece, pouco se importam com isso. Mas também temos um grande número de nações formadas por povos mais preocupados com a formação do caráter, a dignidade, a honra, o respeito e a educação.
Com certeza, os pequenos seres que chegam às maternidades não nascem corrompidos. Em algum momento, alguém contribui para que eles façam suas escolhas.
Uma das mais recentes reportagens do Giovani mostrou que a maior parte dos crimes acontecidos nas grandes cidades do Rio Grande do Sul fica impune. Não é por má vontade da polícia. É por falta de estrutura. Se o Estado investisse melhor nas escolas, na formação de professores, na educação, talvez não precisasse de tanto reforço em delegacias, armamentos, viaturas e no próprio Judiciário.
Mas, afinal, quando e onde as pessoas começam a se corromper? Na família, na creche, no colégio, no trabalho? Com certeza, os pequenos seres que chegam às maternidades não nascem corrompidos. Em algum momento, alguém contribui para que eles façam suas escolhas.
E o jornalismo? Bem, o jornalismo sério tem uma função social importante: denunciar. Mesmo que nos cause indignação e, às vezes, nos pareça muito chato voltar a temas tão desagradáveis. Infelizmente, o Giovani e os colegas do nosso GDI ainda vão ter muito trabalho repetitivo.