Aos 34 anos de idade, Mark Zuckerberg tem um patrimônio de mais de US$ 50 bilhões. Conquistou muito na vida. Mas duvido que, algum dia, mesmo em seus devaneios mais ambiciosos, ele tenha imaginado que aconteceria o que aconteceu na posse de Jair Bolsonaro como presidente da República, no primeiro dia do ano: as empresas dele, Zuckerberg, tiveram seus nomes de marca gritados em coro pelos brasileiros. Sei que, se você não viu, é difícil de acreditar, mas é verdade. É sério. As pessoas entoavam:
Uns amam Lula, outros amam Bolsonaro. O objeto da paixão é diferente, a paixão é a mesma.
Zuck deve estar orgulhoso.
Mas é óbvio que as pessoas não gritavam isso porque adoram fazer postagens ou amam o grupo de mensagens da família. Elas enalteciam o Facebook e o WhatsApp porque, para elas, esses foram os instrumentos que permitiram a eleição de Bolsonaro, numa suposta contraposição à chamada mídia tradicional.
Os bolsonaristas odeiam a imprensa.
A imprensa nem se importa muito, porque já está acostumada. A esquerda gosta de bater nela. Na eleição de 2014, prédios de veículos de comunicação foram invadidos por integrantes dos chamados “movimentos sociais”. O sonho do PT sempre foi criar um conselho de comunicação, que, como todos os conselhos criados por petistas, seria controlado pelo partido e suas instâncias tantas. Só que o PT acalentava esse delírio quando era governo. Agora, que petistas estão sendo varridos de todos os órgãos públicos ou semipúblicos, o que será que os petistas pensam desse conselho, que, cá entre nós, não seria conselho, seria censura?
Para se contrapor à imprensa livre, os petistas também usaram a internet, mas de forma mais institucional do que os bolsonaristas, que se caracterizam pela fluidez de seus métodos de comunicação. Os petistas criaram uma rede de blogs e sites amigos, incentivados ou mesmo financiados pelo partido ou seus apoiadores.
É esse tipo de mídia que merece a desconfiança da população. O elogio fácil ou sistemático ao governo, a qualquer governo, é muito mais nocivo a um país do que a crítica, ainda que ela também seja fácil e sistemática.
Uns amam Lula, outros amam Bolsonaro. O objeto da paixão é diferente, a paixão é a mesma. O comportamento não muda. Para esses apaixonados, não importa a crítica, importa quem é criticado.
Vou me usar como exemplo. Não que seja diferente de meus colegas. Ao contrário, vou fazer isso porque comigo é exatamente igual. Quase não leio os comentários sobre minhas crônicas. Não por desprezá-los; por falta de tempo. Na quinta-feira, porém, amigos me ligaram escandalizados com o que certos leitores comentaram a respeito de críticas que fiz a Bolsonaro. Vou reproduzir alguns ipsis litteris, inclusive com os erros de português, mas omitindo os nomes, para não constrangê-los:
“Esse cidadão é muito nojento, so a RBS, filiada da Globo prá empregar um cidadão desse.”
“TAVA DEMORANDO PRA ESSE COLUNISTAZINHO CAVIAR SIMPATIZANTE DO NAZIGAYPETISMO SE PRONUNCIAR!”
“Os vermes petralhas da RBS se contorcem em agonia ao se darem conta que o tempo da roubalheira bolivariana acabou. Que gentalha asquerosa.”
“Vai durmir o jornalistazinho de quinta categoria esquerdopata lunático.”
“Logo logo vai aparecer o nome desse daí em alguma planilha onde consta ‘palestras’ sem fundamento algum recebendo uma pequena fortuna de algum órgão público.”
“comentarista de m...a. Já te mandaram tomar no ... hoje. Vou te mandar junto com os petralhas.”
“Este imbecil continua a dizer besteira. Volta para o EUA e esquece o Brasil.”
Não é estranho que as pessoas digam esse tipo de coisa para outra pessoa por causa de política? No caso do Brasil, não é. Faz parte da nossa tradição populista. E o país seguirá assim, mancando. Só mudou a perna.