Quando o árbitro apitou o final de Brasil 2 a 0 Costa Rica, nesta sexta-feira (22), Neymar caiu de joelhos ao lado do grande círculo do gramado perfeito do Estádio de São Petersburgo. Com as duas mãos cobrindo o rosto, chorou convulsivamente. O gesto dramático mostrou o que foi a partida, de longe a mais palpitante da Seleção Brasileira na Era Tite e uma das mais nervosas dos últimos tempos.
Neymar estava aliviado porque o Brasil livrou-se da tragédia por pouco. Foi muito difícil. A Costa Rica começou jogando da mesma forma que tem sido empregada por todos os times que pretendem se defender nesta Copa do Mundo: com uma linha de cinco jogadores bem recuados, posicionados quase que sobre o risco da grande área, tendo diante deles outros quatro, que ficavam a uma distância de dois ou três metros, no máximo. Na frente, só Marcos Ureña, um atacante forte, que nunca deixou tranquila a zaga brasileira. Esse esquema foi impecável por pelo menos 20 minutos.
O Brasil era lento, não conseguia entrar na área da Costa Rica e nem mesmo tinha fluência para tocar a bola no meio-campo. Neymar foi menos individualista do que na partida contra a Suíça, mas nem isso ajudou, porque ele estava bem marcado. Quando recebia a bola na intermediária, Venegas o combatia, quando recebia mais perto da área, esse trabalho ficava com Guzmán.
Com Neymar controlado, controlado estava o Brasil. Essa situação deu confiança à Costa Rica, que quase abriu o placar aos 12 minutos, com Celso Borges. O jogo do Brasil só foi aparecer depois dos 20 minutos, quando passou a atuar com um pouco mais de agressividade. Aos 25, Gabriel Jesus fez um gol em impedimento.
Aos 27, Casemiro lançou Neymar, que dividiu com o goleiro Navas, o maior ídolo da Costa Rica - quando ele praticava uma defesa, a torcida uivava de regozijo. Aos 28, Marcelo chutou cruzado, para fora. Aos 29, Coutinho bateu por cima do travessão.
O Brasil agora atacava mais, mas não era suficiente. Havia força só no lado esquerdo, com os virtuoses Marcelo e Neymar. No direito, Willian não conseguia superar a marcação, e Paulinho parecia sem inspiração para fazer suas penetrações de surpresa na área inimiga.
Tite corrigiu parte desses problemas no intervalo, ao colocar Douglas Costa em lugar de Willian. Aí, a Seleção passou a ter alternativas nos dois lados de ataque. Douglas Costa agora investia com fúria sobre a zaga costa-riquenha, cortava para o meio ou zunia em direção à linha de fundo, ameaçava chutar, cruzava, dava outro drible. O Brasil voltou a ser o Brasil.
Aos dois minutos, Coutinho cruzou e Neymar dividiu outra vez com Navas. Aos quatro, Gabriel Jesus cabeceou e a bola se chocou com o travessão. Aos 11, Neymar chutou e Navas espalmou a escanteio.
Aos 12, Douglas Costa perdeu o gol. Aos 18, Neymar chutou mais uma vez e mais uma vez Navas pegou. Aos 27, Neymar recuperou a bola, voou para a área e chutou por cima.
Aos 32, Douglas Costa cruzou, Neymar driblou González e caiu: pênalti! O juiz marcou, mas o árbitro de vídeo desmarcou.
A torcida não sentava mais nas arquibancadas, o nervosismo tornava o estádio elétrico. Em campo, os jogadores do Brasil pareciam prestes a se desesperar e os da Costa Rica se aproveitavam disso, caindo o tempo todo, fazendo cera, enervando-os ainda mais.
Tudo indicava que o jogo terminaria em 0 a 0, uma quase desgraça brasileira. Aos 45 minutos, o árbitro deu mais seis de prorrogação. No momento em que a placa com os descontos foi erguida, Marcelo cruzou, Firmino cabeceou, Jesus tentou dominar e a bola sobrou para Coutinho empurrar para dentro: gol do Brasil. Foi uma explosão. Os jogadores brasileiros, então, começaram a tocar a bola, Neymar até deu um balãozinho de lambreta, enquanto os costa-riquenhos é que se desesperavam. Aos 51, para arrematar, Douglas Costa cruzou, e Neymar, sozinho, fez o segundo.
O jogo acabou, Neymar rojou-se ao solo e um suspiro de alívio foi exalado em uníssono pelos torcedores de amarelo. Ainda há muito a corrigir, mas a primeira parte da missão foi cumprida. O Brasil está quase nas oitavas de final.