No exato instante em que prendi o espirro, lembrei-me de algo que alguém me havia dito: que NUNCA se deve prender o espirro. Segundo essa pessoa, que não recordo quem é, o espirro é uma força represada que precisa ser liberada de qualquer forma. Se você contiver o espirro, a explosão vira implosão e alguma parte de seus órgãos internos irá sofrer as consequências. Ou seja: você vai se arrebentar por dentro.
Meu Deus, pensei, não posso segurar esse espirro! Mas já estava segurando, era só um átimo de segundo, meu corpo tinha tomado as providências para impedir aquele espirro de se manifestar, só que meu cérebro, ao mesmo tempo, gritava:
– Não! Não! Nããããããão!
Será que aquilo da implosão não foi algo que ouvi, mas algo que li? Se foi algo que li, é muito mais grave. Palavra escrita é documento... Se bem me lembro, naquele artigo (deve ter sido um artigo, talvez científico) era contado o caso de um homem que prendeu o espirro, mas resolveu soltá-lo de última hora, exatamente como eu queria fazer. Porém, ao soltá-lo, ele manteve os olhos abertos e jamais, eu disse JAMAIS, se deve espirrar de olhos abertos, e a prova do mal terrível que isso faz foi que os globos oculares do homem esse saltaram das órbitas e rolaram pelo chão como bolinhas de gude. Cristo!
O espirro, de certa maneira, é como a panela de pressão. Tenho medo da panela de pressão. Já ouvi (ou será que li?) coisas horríveis a respeito de panelas de pressão que explodem, destruindo cozinhas e mutilando pessoas. A minha mãe me contou que, uma vez, uma panela de pressão foi pelos ares e a tampa simplesmente arrancou a cabeça da cozinheira. Credo. Por cautela, prefiro preparar o feijão lentamente, em panela normal, por pelo menos duas horas de cozimento.
Quanto ao espirro preso, o que fazer se você percebe que não conseguirá mais soltá-lo, que ele será liberado dentro de você, voando pela garganta, arranhando o estômago e rebentando nos pulmões? Não havia mais salvação. Em todo caso, tomei cuidado para ficar com os olhos bem fechados. Sim, isso tinha tempo para fazer. Mas será que essa história do espirro preso não é apenas lenda? Há muitas lendas bobas, como aquela de não misturar melancia com uva. Dizem que, se você comer as duas juntas, elas empedram no estômago e você morre sentindo dores atrozes. Uma vez, o meu amigo França, que era um cético, comeu metade de uma melancia e um cacho de uvas dedo-de-dama inteirinho, só para provar que essa lenda era bobagem.
O França comeu tudo aquilo sob as vistas de todos os amigos, sorriu e morreu.
Brincadeira... O França está vivo até hoje, acho.
A questão é que eu não queria arriscar meus órgãos internos segurando um maldito espirro. Por que inventei de segurá-lo? Na cultura árabe, certas manifestações ruidosas do seu corpo, como o arroto, são bem-vindas. É até falta de educação não arrotar. Logo, eu devia espirrar sem vergonha, era o que devia fazer. Só que já havia detido o meu espirro e, apesar de ter fechado os olhos, senti que ele (o espirro) iria estourar nas minhas entranhas. Não havia mais tempo, foi tudo muito rápido, meio segundo, talvez um quarto de um segundo, eu não me dominava mais e, assim, aconteceu: espirrei para dentro. Depois do que, abri os olhos, que estavam em seus devidos lugares. Arregalei-os, até. Tentei perscrutar meu interior. Toquei-me. Respirei fundo. Suspirei. Parecia tudo em ordem. Deve ter sido uma implosão fraca. Como a vida é cheia de perigos, meu Deus.