Não me recordo do nome de um filme, nem vou procurar no Google para manter a minha impressão inicial. Eu assisti na faculdade, é de autoria do alemão Werner Herzog. Um aborígene australiano relatava o fim de seu povo num tribunal, mas ninguém entendia o que ele estava dizendo. Nem nós, espectadores. Não havia legenda. Não havia tradução. Era o único sobrevivente de uma língua, o único falante de um idioma sem correspondência em qualquer dicionário. Apenas ele poderia entender a si mesmo, estava à beira da extinção.
Suas lágrimas, seus gritos, sua dor não encontravam eco nas palavras dos outros.
Essa solidão assassinada me veio à tona ao ver crianças Yanomami adoecidas em Roraima, deitadas na rede com todas as costelas aparecendo, mais carniças do que crianças. Os ossos se mostravam em relevo, com a pele esticada ao máximo pela fome. Os sinais de verminose eram evidentes, como abdome inchado. Vermes se expeliam pela boca.
Causa indígena
Opinião
Genocídio
Talvez seja tarde para resolver uma crise sanitária absolutamente planejada para a dizimação das nossas etnias nativas
Fabrício Carpinejar
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