Eles são figuras que passam desapercebidas na maioria das competições. E inclusive preferem assim. Em modalidades que dependem diretamente de avaliação deles, então, caso dos esportes com notas, ainda mais.
Mas a história do Edgard Ferreira é daquelas que chamam muita atenção. Ele é médico intensivista do Hospital São Francisco de Paula, da Universidade Católica de Pelotas e árbitro de ginástica artística, atuando nas competições masculinas nos Jogos Olímpicos de Paris.
Edgard nunca praticou a ginástica. Era um fã da perfeição dos movimentos e, como quase todo mundo que acompanha esse esporte, ficava intrigado com os critérios utilizados para a definição das notas. Começou a estudar. Procurou a federação gaúcha e se inscreveu no primeiro curso e, desde então, só evoluiu. Conta que é preciso organização para dividir a rotina entre as tarefas de médico, professor de medicina e árbitro.
— É preciso assistir a muitas competições para estar bem preparado, precisa ser nerd mesmo — afirma.
Ele é o único brasileiro entre todos os árbitros da ginástica em Paris. Diz que, apesar de já ter atuado nos Jogos do Rio em 2016, a convocação para 2024 foi um choque. Mas um choque feliz, relatou o árbitro. Mesmo atuando apenas nas provas masculinas, vibrou muito com a conquista do bronze em conjunto para as meninas.
— Foi o dia mais importante da história da ginástica brasileira — sentenciou.
Agora que Rebeca Andrade está em quatro finais individuais, Edgard explica aos leigos os critérios na avaliação das ginastas:
— São feitas duas avaliações aos atletas. A primeira é a que mede o grau de dificuldade dos elementos apresentados, com um valor bem objetivo para cada um deles. E a segunda é de execução, que calcula imperfeições de movimento, e vai retirando pontos, a partir do 10. A soma das duas é a nota final do ginasta.
Para deixar tudo mais justo, são dois árbitros analisando a dificuldade e sete a execução, sendo que, desses últimos, apenas as três notas do meio são consideradas.
Quando acompanharmos a badalada ginástica em Paris, estaremos vendo também um representante do Rio Grande do Sul. Se bem que, como se trata de um árbitro, melhor mesmo é nem percebê-lo.