Há mais de um ano eu e a Kelly Costa, repórter de Esporte do Grupo RBS e minha amiga e parceira, que também está aqui no Catar, começamos uma brincadeira nas redes sociais. Se os vídeos com dancinhas estavam viralizando e nós adoramos dançar, que tal lançar uma coreografia por semana, sempre nas sextas-feiras?
A ideia era poder se divertir e levar um pouquinho de leveza para o fim da semana dos nossos seguidores, mas o sucesso foi tanto que o #SextouDasGu virou um programa de rádio na 92 e a cada sexta existe a expectativa do público para saber o que iremos publicar no nossos perfis.
Desde que divulgamos que viríamos para a cobertura da Copa, a pergunta "vai ter dancinha no Catar?" não parava de chegar. Todas as restrições impostas pelo governo local nos fizeram ficar em dúvida se conseguiríamos ou não dançar pelas ruas de Doha. Porém, bastou chegar aqui para ver que não só seria possível como desejável. Vai ter dancinha no Catar, sim, pensamos.
Mas só nós duas dançando não era suficiente. Queríamos mais.
Como gostamos de grandes desafios, desde que pisamos em solo árabe nos propusemos a conseguir realizar um vídeo: um homem árabe, com as roupas típicas, dançando conosco. Na correria da cobertura dos jogos, demoramos um tempo até conseguir estar juntas em um local público e movimentado. Nesta sexta (2), finalmente aconteceu.
Estávamos no Souq Waqif, o mercado que recebe a maior concentração de pessoas por aqui, e avistamos uma família árabe. Estavam felizes e animados, conversando, e abriram sorrisos quando nos apresentamos como jornalistas brasileiras. Imaginamos que haveria uma certa desconfiança com a proposta da gravação, mas dois homens aceitaram imediatamente.
— Só ensinem como temos que fazer — pediram.
Optamos por uma coreografia famosa. Desenrola, bate, joga de ladinho. Eles repetiram os movimentos com facilidade arrancando risadas das esposas e filhos, que nos cercavam. Desenrola, bate, joga de ladinho. Repetimos duas, três, quatro vezes e terminamos pulando de alegria e batendo palmas para a disposição dos árabes. Antes de se despedir, um deles ainda cantarolou para nós: "desenrola batchi jôgajôgadjin". E saiu repetindo a dancinha com a família.
A verdade é que, seja através da dança, da música, e, claro, principalmente do nosso futebol, digo sem medo de ser pretensiosa: ganhamos o coração dos árabes. E não estou falando só de mim e da Kelly, obviamente. Nós, povo brasileiro mesmo. Eles estão receptivos, curiosos e apaixonados com a nossa cultura e nossa forma de jogar.
Coincidentemente, o último jogo da Seleção Brasileira na primeira fase de Copa, contra Camarões, caiu justamente em uma sexta. Dia da dança, dia que dá nome à campanha dessa cobertura do grupo RBS, #BoraSextar. Terminamos essa primeira etapa do Mundial gerando ainda mais encantamento nos anfitriões.
A gente joga, a gente dança, a gente brilha por vestir verde e amarelo. Se havia incerteza sobre a receptividade do #SextouDasGu por aqui, hoje ela foi embora. Teve dancinha em Doha! E com os locais!
Se elas dançam, os árabes dançam. Se elas dançam, o mundo dança também.