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O Rio Grande do Sul está prestes a experimentar sua quarta onda de calor de 2025, que deve começar entre o fim desta semana e o início da próxima, prometendo calor intenso e clima úmido até a primeira semana de março.
Nesse período, segundo Glauco Freitas, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as áreas que devem sofrer maior impacto são as que estão mais úmidas, como a Região Metropolitana de Porto Alegre e arredores, a exemplo de parte da Serra, Vale do Rio Pardo e Vale do Taquari.
A combinação de alta temperatura e alta umidade relativa do ar impacta diretamente a sensação térmica e pode trazer problemas à saúde de quem não estiver preparado.
O cenário fica ainda mais complicado em se tratando de áreas bastante urbanizadas, o que favorece a formação de ilhas de calor, e que possuem diversos espelhos d'água, que aumentam a umidade.
Estresse térmico
A médica Marina Butke, geriatra do serviço de Medicina Interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), explica que o corpo humano tem um sistema que está sempre tentando mantê-lo em equilíbrio térmico.
Dessa forma, quando a temperatura ambiente ultrapassa os 36,5°C ou 37°C do organismo humano, entram em ação mecanismos de compensação para regular a temperatura interna, como a dilatação de vasos sanguíneos da pele e o aumento do suor.
No entanto, quando a temperatura aumenta demasiadamente e o ambiente está muito úmido, o organismo acaba perdendo algumas capacidades de dissipar o calor. E conforme a umidade sobe, esta dissipação fica ainda mais dificultada.
— Se é um calor mais seco, o organismo consegue compensar melhor, dissipando o calor de dentro para fora. Mas quanto mais calor e quanto maior a umidade relativa do ar, mais dificuldade esses mecanismos terão para dissipar esse calor através do suor e da vasodilatação da pele. Isso provoca um aumento da temperatura interna e faz com que a pessoa apresente sintomas relacionados ao estresse térmico — explica Marina.
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Confusão mental
Os sintomas mais comuns em um cenário de calor intenso e umidade são o aumento da frequência cardíaca e da quantidade de movimentos respiratórios.
Se persistirem as condições, a pessoa poderá apresentar taquicardia, mal-estar, tontura, dor de cabeça e náuseas. Também é comum o aparecimento de sintomas emocionais, como mais irritabilidade e indisposição para realizar as atividades do dia a dia.
— Muitas vezes, as pessoas que são mais vulneráveis, principalmente os idosos, podem ter casos de confusão mental por causa da desidratação provocada pelo calor — detalha a geriatra.
Crianças e idosos
O alerta da médica vai especialmente para os extremos etários — as crianças menores e os idosos —, que costumam ser os mais afetados no calor intenso:
— Os idosos têm uma redução no mecanismo que faz sentir sede e, se hidratando menos, têm menos capacidade de compensar o calor intenso. Já o adulto saudável, mesmo sem intenção, acaba fazendo coisas para compensar, toma mais água.
Também não é impossível morrer de calor, ressalta a médica, o que ocorre principalmente como reflexo da desidratação. Nesses casos, a pressão arterial pode ser afetada, pode haver insuficiência renal e quadros de confusão mais importantes, sendo necessária hospitalização.
— Pessoas com doenças, que fazem uso de muitos medicamentos e que estão percebendo a pressão ficando mais baixa precisariam reavaliar o tratamento com seus médicos e fazer ajustes temporários das medicações — diz Marina.
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Dicas para se proteger do calor
Hidratação
É a palavra-chave para enfrentar mais uma onda de calor. É necessário aumentar a ingestão de água e pode-se lançar mão de outras bebidas também, como sucos naturais sem açúcar, água de coco, água com gás e chás que não tenham efeito diurético.
A recomendação é passar longe de bebidas açucaradas, alcoólicas e do café, que aumentam a desidratação.
— Como crianças e idosos costumam ter mais dificuldade de aceitar os líquidos, é importante a gente lembrar de oferecer a eles, em vários momentos do dia. Uma boa dica para os dias de calor também é observar a cor de urina, sabendo que, se estiver mais alaranjada ou amarelada, é porque está faltando água no organismo. O ideal é estar clarinha — afirma a médica.
Alimentação
Nessa época, também é indicado comer frutas como melão e melancia, que têm alta concentração de água na sua composição.
Nas refeições, o indicado é optar por alimentos mais leves, vegetais, cereais, e fracionar os alimentos em quantidades menores mais vezes ao dia. Comidas muito pesadas e gordurosas devem ser evitadas.
Conforto térmico
Sempre que possível, deve-se ficar longe do sol, em ambientes arejados, com ventilador ou ar-condicionado, que deve ser regulado em torno de 23ºC.
— Vale destacar que é importante manter esses equipamentos bem higienizados para evitar a proliferação de microrganismos — alerta a médica.
Com relação a roupas, é o momento de investir em modelos mais soltinhos, em tecidos finos e o mais naturais possível, como algodão e linho, que abafam menos o corpo. As cores mais claras também são recomendadas, pois retêm menos calor.
— Quem for se exercitar deve evitar os horários de maior calor, das 10h às 16h. Para quem puder, vale evitar se expor de forma geral nesses horários mais críticos, e sempre lembrar de usar protetor solar, óculos de sol e chapéu.