Uma alternativa não tão usual para substituir o papel higiênico está sendo utilizada em partes do Quênia e dos Estados Unidos. As folhas de Plectranthus barbatus, mais conhecido como boldo, estão servindo como uma opção mais barata e sustentável do tradicional papel higiênico, fabricado com fibras de celulose extraídas da madeira.
Em diversos países da África, o papel é uma escolha cara demais. Segundo a BBC, os preços aumentaram em todo o continente. Por mais que ele seja produzido em território africano, a pasta de celulose utilizada no processo costuma ser importada. Martin Odhiambo, fitoterapeuta do Museu Nacional do Quênia e especialista em plantas tradicionais, falou à rede britânica que o boldo poderia servir como uma versão mais acessível do papel.
— A Plectranthus barbatus é o papel higiênico africano. Muitos jovens hoje em dia desconhecem essa planta, mas ela tem potencial para ser uma alternativa, amiga do ambiente, ao papel higiênico — afirmou à BBC.
Possíveis riscos à pele
O boldo é cultivado amplamente no continente, e usado, também, em áreas rurais. As folhas da planta possuem cheiro de menta. Apesar da vasta disponibilidade, o uso do boldo em regiões íntimas do corpo ainda não teve sua segurança propriamente testada por especialistas. Juliano Peruzzo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Sul (SBD-RS), alerta para os possíveis riscos de colocar plantas em contato direto com as mucosas:
— Diversas espécies de plantas e alguns dos seus derivados podem causar dermatites, uma alergia na pele.
A questão central da folha de boldo é que ainda não se sabe a extensão do seu potencial alergênico.
— É importante salientar que existem centenas de milhares de plantas no mundo e a maior parte delas é inofensiva. Por isso, antes de entrar em contato com qualquer planta, é importante conhecer exatamente o que ela pode causar — pontua o dermatologista.
Segundo o especialista, a melhor alternativa para a limpeza na região íntima nem seria o papel higiênico, e sim água e sabão neutro. Isso porque existem alguns casos de pessoas com peles sensíveis que tiveram alergias (ou dermatites) provocadas pelo próprio papel higiênico, quando usado em excesso.
— O ideal mesmo seria sempre se lavar depois, mas é algo impraticável muitas vezes. O papel higiênico é feito de um material conhecido e por isso acaba sendo mais indicado quando comparado ao uso de plantas — ressalta Peruzzo.
Juliano lembra que existe um relato de dermatite de contato perianal, na literatura médica, associando a alergia ao contato com a planta Plectranthus barbatus, espécie conhecida popularmente como boldo-da-terra. Até folhas usadas comumente podem provocar reações indesejadas na pele, se o tecido for sensível. Por isso, o médico reforça o cuidado de utilizar plantas em contato direto com a pele sem conhecer as alergias que elas podem provocar.
— No caso do papel, se usado em excesso e em pessoas com maior sensibilidade, pode provocar alergia. No caso da folha de boldo, é mais imprevisível.
Adeptos do boldo ao redor do mundo
Conforme reportagem da BBC, a produção de boldo em larga escala para uso doméstico ainda está distante da realidade. Porém, isso não impede que a planta ganhe fãs ao redor do globo. O ativista ambiental Robin Greenfield relatou que usa as folhas dos mais de cem pés de boldo que mantém no seu viveiro, na Flórida, Estados Unidos, para limpar o próprio corpo.
Ele faz parte de uma iniciativa que incentiva a população a plantar e cultivar o próprio papel higiênico em casa. Nas redes sociais, Greenfield compartilha conteúdos com a hashtag "Grow Your Own TP [toilet paper]" (ou "plante o seu próprio papel higiênico", em português). Segundo o ativista, o engajamento é positivo, com pessoas valorizando a sustentabilidade do cultivo.
— Há muitas pessoas que associam o uso da planta como papel higiênico à pobreza, mas devo lembrá-los que, quando usam papel higiênico industrial, continuam usando plantas. A diferença é que elas apenas têm uma indústria com elas — contou à BBC.