Após registrar elevados volumes de chuva no início de setembro, o Rio Grande do Sul deve sofrer com uma nova frente fria, que trará mais dias de intensas precipitações. Mas este período do ano ser chuvoso não é uma novidade. Meteorologistas e climatologistas já comprovaram que setembro, juntamente com outubro, é tradicionalmente um mês de maiores acumulados. O fenômeno tem relação com as chamadas "enchentes de São Miguel", conhecidas por moradores de regiões com o Vale do Caí.
No dia de São Miguel, celebrado em 29 de setembro, é comum que haja chuva volumosa, não raro, provocando enchentes. O termo popular "enchentes de São Miguel" surgiu porque a chuvarada comprometia a realização de festas religiosas nas comunidades rurais da região. Daí veio a percepção de que em setembro acontecem esses fenômenos.
Em 2023 não será diferente. Especialistas apontam que a segunda quinzena deve ser marcada por novas precipitações no Centro-Sul, no Norte e Noroeste.
— Tivemos um evento de precipitação intensa em setembro, que foge das médias históricas, provocando chuva acima de 150mm em várias cidades do RS. Do ponto de vista meteorológico, muito significativas —, explica o meteorologista Vagner Anabor, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Para próximos dias, Anabor reforça que a passagem de um sistema de baixa pressão vai provocar chuva intensa no Estado.
Historicamente chuvoso
Segundo o meteorologista Murilo Lopes, que integra o Grupo de Modelagem Atmosférica (Gruma) da UFSM, setembro é historicamente um mês mais chuvoso.
— A chegada da primavera normalmente é um período de enchentes, como a de São Miguel, no Vale do Caí. É um período em que muitas vezes tem frentes frias avançando de forma intensa — frisa Lopes, acrescentando que é uma estação do ano marcada por tempestades e cheias.
Ele explica que a atuação do El Niño no Oceano Pacífico contribui em 2023 para esse cenário, com sistemas de controle maior de umidade sobre o Estado. Em decorrência do fenômeno, o RS deve voltar a registrar grandes volumes de chuva nas próximas duas semanas.
— Isso resulta em chuva mais intensa. Temos já na primeira semana de setembro muitas localidades com cheias graves. E nos últimos dias temos um acumulado que chega a até quase três vezes os valores climatológicos para esse mês do ano, como no Vale do Taquari — ressalta.
Para a segunda quinzena de setembro, a expectativa é por um volume menor:
— Vamos ter chuva, mas a tendência é de que não sejam valores extremos.
Conforme Lopes, nas regiões do Vale do Caí e do Taquari a chuva deve dar uma trégua.
— Não vamos ter maiores acumulados naquelas regiões, mas qualquer volume de chuva vai causar problemas, porque é uma região sensível atualmente.