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A enxurrada que devastou o Vale do Taquari reforça a importância de o Rio Grande do Sul ter um centro integrado para monitoramento direcionado ao tempo e ao clima. Meteorologistas e profissionais de Defesa Civil destacam, ainda, a necessidade de que o espaço conte com técnicos que conheçam as especificidades de cada região, a geografia e a população.
— Isso exige capacidade técnica e compra de equipamentos. Nesse momento, o RS está aquém do que seria necessário — avalia Walter Collischonn, professor de hidrologia do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS.
Na visão de Collischonn, o RS precisa de uma entidade que faça um trabalho de monitoramento com previsão e alerta em tempo real. Ele afirma que, se cada município tivesse pelo menos um medidor de chuva, com transmissão de dados, isso já garantiria uma boa cobertura sobre o comportamento dos rios, um dos grandes problemas do Estado.
— O que aconteceu nessas cheias é que as pessoas entraram nas casas, subiram para o segundo piso na expectativa de que a cheia não fosse tão alta. A fuga para o segundo piso foi insuficiente e depois muitos foram para o telhado. [...] Como sociedade ainda não implementamos um sistema de monitoramento adequado para fazer uma previsão de qualidade confiável, que possa ser repassada para a Defesa Civil e avisar com horas de antecedência qual o nível que determinado rio vai atingir.
Capacitar equipes e a população
Coordenador do curso técnico de meteorologia do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Mario Quadro Leal explica que o Estado vizinho conta com sistema de monitoramento com quatro radares que conferem cobertura a todas as regiões.
— Não temos nenhuma região do Estado sem cobertura. E contamos com estações meteorológicas — frisa.
Ao avaliar a tragédia do Vale do Taquari, Leal ressalta a importância de contar com uma equipe do próprio Estado. Em Santa Catarina, uma vez por mês ocorre reunião entre profissionais para projetar o clima nos próximos meses.
— Defendo mais do que a criação de centros regionais ou mesmo locais. Seria importante contar com um grupo que pudesse atender prontamente a alertas. O próprio Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) faz monitoramento de riscos. Aqui, temos o AlertaBlu, em Blumenau, por conta dos desastres que ocorreram no Vale do Itajaí. A cidade se preocupou em ter centro próprio — pontua.
Opinião que é compartilhada pela meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de SC (Epagri/Ciram), Maria Laura Rodrigues.
— É interessante que cada Estado tenha seu centro de monitoramento com pessoal capacitado do quadro de funcionários. A prática e a experiência fazem a diferença, porque são pessoas que conhecem as características do local.
Maria Laura reforça ainda a importância da atuação da Defesa Civil dos municípios e da necessidade de educar a população a receber as informações repassadas pelos órgãos de monitoramento.
— Não basta só a previsão do tempo. A população precisa estar treinada — destaca.
Aprender é necessário
Coronel da reserva do Corpo Bombeiros de Santa Catarina e ex-coordenador-geral de Gerenciamento de Desastres da Defesa Civil nacional, Aldo Baptista Neto lembra que o episódio das chuvas que atingiram o Vale do Itajaí, em 2008, representou um divisor de águas. Naquele ano, 135 pessoas morreram por conta das fortes chuvas.
Baptista Neto, que também atuou como coordenador da Defesa Civil de SC, avalia que a tragédia no Vale do Taquari deveria provocar mudanças nas ações preventivas no RS.
— O ideal seria o governo do Estado estabelecer um grupo de trabalho administrado por um especialista com grande projeção política e que tenha boa circulação no governo do RS. Seria importante a formação de um grupo multidisciplinar envolvendo todas as secretarias de governo — sugere.