Muitas das ruas do bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha, receberam nomes de árvores frutíferas: Goiabeira, Cerejeira, Macieira, entre outras. No entanto, os pomares por ali são raros, para não dizer inexistentes. Aproveitando a tarde de Dia dos Pais neste domingo (9), os moradores decidiram começar a mudança de cenário: pais e filhos se uniram para plantar árvores frutíferas em uma área verde entre a Rua Guajuvira em paralelo com a Avenida Primavera.
A ação foi realizada com agendamento para evitar aglomeração (cada um tinha seu horário para plantar, de 15 em 15 minutos), além de distanciamento controlado e uso de máscara, por causa da pandemia de coronavírus. O idealizador da iniciativa, Uilson Droppa, calcula que 28 pais compareceram com seus filhos, totalizando mais de 50 pessoas. Em torno de 60 árvores foram plantadas por ali. Cada pai recebeu um certificado.
Uilson tem 35 anos e vive há 22 no bairro. O comerciante conta que os moradores já realizaram mutirões de limpeza na área, mas é a primeira vez que se unem para plantar árvores.
A ideia para a iniciativa surgiu por conta de sua vivência anterior em Cruz Alta, onde cresceu. Ao chegar em Cachoeirinha, notou uma diferença:
— A alimentação lá fora era café, almoço e janta. E, quando viemos para cá, percebemos que a alimentação era café, almoço, café da tarde e janta. Estranhava porque o pessoal tomava café aqui de tarde. É que lá a gente passava na rua e pegava bastante frutas das árvores. Em tudo que é rua tinha árvores frutíferas, e notamos que aqui não existia – explica.
Entre as árvores plantadas neste domingo estão pitangueira, araçaeiro, cerejeira, bergamoteira, laranjeira, entre outras. O objetivo, segundo Uilson, é encher o bairro de pomares, no futuro – e fazer jus ao nome Jardim do Bosque. O comerciante conta que houve pai que plantou mais de uma árvore, além daqueles que fizeram isso pela primeira vez.
— Foi para mostrarem para os filhos como é. Que a criança possa ver. Que ela possa passar daqui a uns anos e possa ver que está dando frutos — destaca Uilson.
Quem também participou da ação foi o irmão de Uilson, Tiago Moreira Droppa, 33 anos. O técnico em informática levou sua filha Maria Antonia, quatro anos. Os dois plantaram uma pitangueira. Segundo Tiago, a ação foi uma possibilidade para as crianças se conectarem com algo mais real.
— Vivemos em um mundo digital, e as crianças já crescem conectadas. Essa atitude contribui para a conscientização, pois elas aprendem com o exemplo. Para elas é novidade mexer na terra, têm até medo de sujar as mãos — analisa.
Símbolo de recomeço
Nédison Geraldo dos Santos, 39 anos, levou seu filho Carlos Eduardo Perreira, de seis. Pai e filho também plantaram uma muda de pitangueira. O assistente de logística relata que o Dia dos Pais é uma data repleta de emoções para ele, pois sente falta de seu falecido pai.
Nédison admite que nesse dia a saudade é grande, porém, participar de um ação como a de deste domingo, junto de seu filho, o deixou bastante feliz:
— Primeiro por estar com ele e também por poder mostrar o quanto é importante cuidar da natureza. Já combinamos de retornar nesta segunda-feira (10) para regar. Agora somos responsáveis pela mudinha e, se cuidarmos bem, daqui a alguns anos vamos comer frutinhas plantadas por nós.
Segundo Nédison, o que fica de uma ação como a deste domingo é o cuidado e a responsabilidade que se deve assumir.
— Plantamos uma mudinha. A mesma vai precisar de cuidados para poder crescer e se desenvolver, assim somos nós precisamos nos cuidar e de cuidados — reflete.
Nédison sente que a experiência tocou o seu filho, mas o fato mais importante deste domingo foi o de estarem reunidos dentro de uma pandemia, em distanciamento social, e saírem para a rua para dar vida a uma árvore.
O comerciante Eduardo de Oliveira Henrique, 34 anos, levou seus dois filhos para a ação: Lucca Silva Henrique, 10, e Edu Silva Henrique, 12. O trio plantou uma pitangueira. Para ele, ter esse contato com a natureza, após um período em que seus filhos ficaram cinco meses dentro de casa, pode significar a semente de uma esperança:
— Poder sair e plantar uma árvore pode simbolizar o recomeço. A volta da nossa vida normal que queremos.