
O que une políticos de partidos e estilos tão diferentes como Jair Bolsonaro (PSL), Rodrigo Maia (DEM) e Alceu Moreira (MDB)? No tocante às queimadas na Amazônia, que ganharam as manchetes durante a semana, todos acreditam que há exageros no noticiário e alguma difamação movida a interesse econômico.
Bolsonaro é de longe o maior defensor de que o escândalo despertado pelos mais de 72 mil focos de incêndio detectados neste ano na Amazônia é fruto de uma conspiração internacional destinada a prejudicar o Brasil. Pelo Twitter, neste sábado (24), o presidente escreveu: "dói na alma ver brasileiros não enxergando a campanha fabricada contra a nossa soberania na região" da Amazônia.
Ele se refere a ameaças de França e Irlanda de boicotar o acordo da União Europeia com o Mercosul, caso não sejam tomadas providências urgentes contra as queimadas.
Mas Bolsonaro é pródigo em enxergar conspirações, desde quando era militar do Exército. Tem também o costume de dizer tudo o que pensa, mesmo quando não tem provas. Que tal a opinião de um político que calcula cada frase e considerado um dos maiores negociadores do Congresso, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ)? Pois ele assina embaixo de alguns dos temores de Bolsonaro. O deputado diz que há um certo exagero na ameaça europeia de voltar atrás no acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Em evento no qual falou para advogados em São Paulo, Maia disse:
"Usar as queimadas da Amazônia me parece uma desculpa para proteção da economia de algum país, como é o caso da França. Tudo bem, é direito deles, mas o Brasil não tomou nenhuma atitude concreta, de leis, de ação do governo, para, meses depois (do anúncio do acordo), eles não quererem cumprir o acordo. A França, por exemplo, nunca ajudou no acordo".
Maia também estranha que o presidente francês Emannuel Macron tenha chamado a Amazônia de "nossa casa". O deputado diz que "a floresta amazônica no território brasileiro é dos brasileiros".
Alceu Moreira, experiente deputado federal gaúcho do MDB, assina embaixo das desconfianças de Maia e Bolsonaro. Para ele, as súbitas críticas às queimadas fazem parte de uma estratégia europeia de guerra comercial. Um dos líderes da frente ruralista no Congresso, o parlamentar considera que existem interesses de países europeus em rebaixar a imagem do Brasil para conseguir derrubar preços de produtos agrícolas.
Moreira admite que existe grilagem e desmatamento na Amazônia e diz ser contra isso, mas não reconhece isenção nos europeus para a alta voltagem das críticas disparadas por eles.
"Eles estão tentando colocar essa pauta ambiental como empecilho. Porque são países que, embora sejam altamente populosos, ainda têm na sua matriz agrícola uma questão importante para sua economia. Cada saco de soja produzido pelo Brasil é um a menos produzido pelos europeus e isso incomoda", declarou, nas redes sociais.
É um raciocínio semelhante ao de dois generais ouvidos por GaúchaZH neste fim de semana. Um deles, o ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, recomendou:
- Por que o Brasil não lidera a discussão sobre a Amazônia com os países que fazem parte da área amazônica? Está deixando espaço para o assunto ser discutido no G7, no Vaticano, onde mais? Tem de combinar ação, liderança e inteligência.