Nos dias que antecederam os abates de cerca de 300 cervos do Pampas Safari, localizado em Gravataí, o Ibama emitiu recomendação para que a direção do parque recolhesse os aparelhos de telefone celular dos seus funcionários durante os trabalhos de transporte dos animais até um frigorífico em Santa Maria do Herval.
O objetivo da sugestão era evitar o vazamento de imagens que pudessem causar comoção ou protestos de grupos de proteção animal. Como os sacrifícios ocorreram em etapas, entre 30 de novembro e 12 de dezembro, a avaliação era de que qualquer vazamento de imagem ou informação no início do processo poderia ocasionar reação capaz de provocar a paralisação do trabalho.
O Pampas é um parque privado e, por isso, fontes do Ibama dizem que emitiram apenas uma recomendação, mas que a execução era tarefa da direção do empreendimento, se entendesse necessário. Advogado do Pampas, Everton Staub foi contatado pela reportagem para comentar a situação, mas não respondeu até a publicação da reportagem.
As três centenas de cervos receberam o abatimento sanitário, com destinação dos resíduos para a "graxaria", já que não estavam próprios para consumo humano.
Os bichos, no primeiro momento, sofreram o que se chama de "insensibilização" com uma pistola pneumática que lança um dardo no cerebelo. Com isso, o animal perde a consciência e, depois, não sente dor na hora do sangramento com a faca.
Quando destinados à "graxaria", os resíduos são esterilizados ao passar por fornos de intenso calor, recebendo posteriormente fins não comestíveis por humanos (como ração animal e sabão).
Os cervos tinham suspeita de tuberculose bovina — 74 casos foram confirmados em diferentes espécies entre 2003 e 2017 — e a hipótese de eles serem sacrificados se tornou uma das grandes polêmicas do segundo semestre de 2017, quando houve a largada de uma batalha judicial entre a família proprietária do Pampas e grupos de proteção animal. Depois de longa disputa nos tribunais, o parque confirmou a tese de que o abate de animal exótico é assegurado por lei, derrubando as liminares que impediam os sacrifícios. Com acompanhamento e autorização do Ibama e da Secretaria Agricultura, deu continuidade ao seu plano de encerramento de atividades, o que inclui o extermínio do plantel com suspeita de tuberculose bovina.
O empreendimento já estava fechado para visitação desde junho de 2016, quando o Ibama cancelou a licença de funcionamento devido a problemas que foram listados em relatórios oficiais, indicando estrutura degradada no local.