Os laudos que apontam a presença de Mycobacterium tuberculosis — o agente causador da maioria dos casos de tuberculose em pessoas — em um camelo e uma capivara do Pampas Safari não garantem que a causa da morte dos animais foi a tuberculose humana, e nem que era essa a variante da doença que eles contraíram. Depois de conferir os documentos, divulgados por GaúchaZH no domingo (29), o Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) apontou que o exame, apesar de indicar a contaminação por tuberculose humana, não é definitivo para identificar a doença.
— O teste aponta a presença de Mycobacterium, não necessariamente da Mycobacterium tuberculosis. É complicadíssimo trabalhar com essa micobactéria. O teste não garante que os animais estavam infectados pela bactéria que causa a tuberculose humana — explica Rodrigo Nestor Etges, médico veterinário da Seapi.
Conforme Etges, o laudo apontou que houve reação aos anticorpos do agente causador dos casos de tuberculose em pessoas porque as amostras dos animais mortos foram expostas a esse anticorpo: se tivessem sido expostas aos anticorpos de outra variante da tuberculose, também reagiriam a ela, já que as espécies são muito parecidas.
— Há chance muito grande de que aqueles animais tenham morrido por tuberculose bovina, pois é a bactéria que já foi identificada em outros casos, através de isolamento, que é o diagnóstico padrão ouro para tuberculose. São muito semelhantes essas bactérias, poucos elementos as diferenciam. No caso desses testes, o anticorpo vai se ligar à Mycobacterium bovis como se ligaria a outras do grupo de bactérias onde estão agrupadas as espécies que afetam os humanos e mamíferos — afirma o veterinário.
Laudos de 2012 e de 2014 da UFRGS, também feitos em necropsia, já haviam identificado ou sugerido a presença de tuberculose bovina em cervos e lhamas do Pampas Safari. Essa foi a primeira vez que testes apontaram presença de tuberculose humana — ainda não descartada — no Pampas. Segundo Etges, isso provavelmente se deu porque o teste realizado foi diferente, feito com um anticorpo capaz de se ligar a outras bactérias do gênero, o que sugeriu a possibilidade de o camelo e a capivara analisados terem sido afetados pelo mesmo causador da tuberculose humana.