Diante da dificuldade de abastecimento de água em algumas localidades, inclusive no Rio Grande do Sul, e da poluição de mananciais, causadas pela estiagem e por problemas de tratamento de esgoto em centenas de municípios brasileiros, GaúchaZH decidiu buscar iniciativas públicas, privadas e da sociedade civil que tentam minimizar esse transtorno. Foram ouvidos governos, empresas, escolas, organizações civis e universidades de todas as regiões brasileiras.
Para marcar o Dia Mundial da Água, celebrado nesta quinta-feira (22), 12 iniciativas de proteção a esse bem natural são abordadas a seguir. Todas elas contam com reconhecimento de eficiência de órgãos públicos ligados aos recursos hídricos, como a Agência Nacional de Águas. Algumas, inclusive, são apresentadas no Fórum Mundial de Águas, que ocorre em Brasília até 23 de março.
Empresas de médio e grande porte
Fiat Crysler, Betim (MG)
Projeto: Gestão de Recursos Hídricos
A Fiat Chrysler tem diversas iniciativas para evitar a poluição dos recursos hídrico e combater o desperdício de água. Uma delas é não utilizar água potável na operação das fábricas. A água da chuva também é aproveitada e os funcionários são estimulados a apresentar projetos a criar projetos que estimulem a preservação do ambiente dentro das fábricas e nas comunidades.
— Temos estações de tratamento com alto índice de reciclo. Hoje, praticamente não usamos água potável para o consumo industrial — afirma Cristiano Félix, gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança da empresa para a América Latina.
Engie Brasil Energia – Florianópolis (SC)
Programa de Conservação de Nascentes
A Engie Brasil Energia, com sede em Florianópolis (SC), começou em 2010, em Chopinzinho, no sudoeste do Paraná, um programa de conservação de nascentes do Rio Iguaçu. A iniciativa, que tem o objetivo de proteger mananciais e assegurar a oferta e qualidade da água às comunidades locais, foi replicada em diversas regiões do país onde a empresa está inserida.
— Nós resolvemos fazer uma parceria em função de que são comunidades que vivem no entorno das nossas usinas. A gente procurou ligar a questão da qualidade e preservação da água das nascentes com a valorização das propriedades — diz José Lourival Magri gerente de Meio Ambiente e Responsabilidade Social da empresa de geração de energia elétrica, ao reforçar que 1,8 mil famílias já participaram das ações.
Empresas de micro e pequeno porte
Agrosmart – Campinas (SP)
Projeto Cultivo Inteligente
A Agrosmart é uma startup com foco no campo que desenvolveu uma plataforma de agricultura digital para ajudar o produtor a entender as necessidades da planta em tempo real e reagir de maneira mais adequada quanto à quantidade de água a ser utilizada no processo de irrigação das lavouras.
— Usamos sensores que medem a evapotranspiração, o desenvolvimento da planta, a chuva e a humidade do solo e geram recomendações de qual a lâmina de água deve ser aplicada em cada uma das parcelas, levando em consideração as necessidades da planta, mas também os equipamentos disponíveis e a tarifa de energia local — diz Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart.
Segundo ela, a tecnologia permite economia de 40% na energia e de 60% no consumo de água, além de aumentar a produtividade no campo.
Biotechnos Projetos Autossustentáveis, Santa Rosa (RS)
Programa Bioplanet – Energia para o Mundo
A Biotechnos Projetos Autossustentáveis, com sede em Santa Rosa, no noroeste gaúcho, trabalha com alternativas de negócios ecologicamente corretos, através do desenvolvimento de produtos, projetos e assessoria nas áreas de bioenergia e biodiversidade. Um dos projetos é o Bioplanet – Energia para o Mundo, que transforma óleo de cozinha em biodiesel.
— Então além de você ter a questão da destinação correta do óleo residual, você tem um fator que beneficia a questão do meio ambiente, que é o uso desse biocombustível em frotas — afirma Márcia Werle, presidente da Biotechnos.
Escolas
Centro Educacional Agrourbano Ipê– Brasília (DF)
Projeto Agrourbano Plantando Água
O Centro Educacional Agrourbano Ipê, no Distrito Federal, desenvolve ações para reduzir o consumo e incentivar o tratamento e o reuso da água. Também é feita a implantação de agroflorestas nas propriedades rurais familiares. Entre os resultados estão a captação de água da chuva, a recuperação do solo com o sistema agroflorestal e a construção de miniestação de tratamento do esgoto das fossas para reutilização de toda a água da escola.
— Nós estimulamos a comunidade a desenvolver diversos projetos em várias linhas. A primeira seria na questão da Agrofloresta, no sistema de cultivo agroecológico, estimulando o produtor a produzir sem o uso de produtos químicos que poderia poluir o lençol freático — diz Leonardo Teruyuki Hatano, professor da instituição.
A segunda frente trabalha com a questão do saneamento básico, com a criação de uma miniestação para tratamento do esgoto. Outra preocupação é o monitoramento da qualidade das águas das nascentes dos rios.
Escola Municipal de Educação Básica Professora Annita Magrini Guedes – São Bernardo do Campo (SP)
Projeto Em busca de uma escola sustentável
A Escola Municipal de Educação Básica Professora Annita Magrini Guedes, localizada em São Bernardo do Campo (SP), envolve os 500 alunos e suas famílias no projeto de conscientização ambiental. O diretor da instituição, David de Souza, afirma que o programa tem como pilar a sustentabilidade pedagógica, de fazer com que as crianças aprendam a proteger os recursos naturais.
— Eles colocam as mãos na terra, montam e desmontam filtros, dão comida para os peixes. A ideia é conscientizar as crianças e as famílias.
Governos
Prefeitura municipal de Santana do Seridó (RN)
Projeto Palmas para Santana
Santana do Seridó, no Rio Grande do Norte, é uma das tantas cidades do Nordeste que sofre com a estiagem. Diante de um cenário sem perspectiva de melhora e de recursos escassos, a prefeitura decidiu transformar o esgoto produzido pelos menos de 3 mil habitantes em água para a agricultura. A cidade começou a cultivar a Palma, uma espécie de cacto utilizado na alimentação do gado.
— Nós colocamos a água tratada numa cisterna, onde passa por dois filtros e depois vai irrigar a Palma por gotejamento. Não tem contato dessa água com a planta, mas com o solo — afirma o zootecnista Ivan de Oliveira Junior, mentor do projeto.
Prefeitura de Caxias do Sul (RS)
Programa Água Limpa
Caxias do Sul, na serra gaúcha, possui um conjunto de ações que visam despertar a importância do saneamento básico nas propriedades rurais. O programa “Água Limpa” contempla o abastecimento da população rural com água potável, através da recuperação de vertentes e poços artesianos, com o tratamento da água usada pelas famílias e também na utilização dos dejetos dos animais como adubo natural.
- O projeto beneficia, principalmente, produtores rurais e atinge as áreas de água potável para abastecimento familiar, por meio da proteção de nascentes e dos poços artesianos.- Da mesma forma essa água usada pelo produtor a gente canaliza ela numa miniestação de tratamento, se faz o tratamento dessas águas servidas para depois devolver para a natureza — diz Paulo Ricardo Fachin, engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura e coordenador do programa.
Organizações civis
ONG Grupo Dispersores - Brazópolis (MG)
Projeto De Olho nos Olhos - Proteção e Recuperação de Nascentes
A ONG Grupo Dispersores começou em 2016 a recuperação de 200 nascentes e a restauração de 157 hectares de Mata Atlântica no sul de Minas Gerais. Os municípios beneficiados pelo projeto estão localizados em unidades de conservação. O projeto “De Olho Nos Olhos - Proteção e Recuperação de Nascentes” garante a assistência técnica e insumos necessários aos produtores rurais interessados. Evandro Mendonça Negrão é vice-presidente da ONG e conta que a instituição trabalha com dois pilares: educação e conservação dos recursos hídricos.
— A gente beneficia os produtores que não têm condições de preservar as nascentes. A gente orienta eles para o que tem que ser feito e subsidia com insumos, como mourões, arames e mudas que são produzidas no nosso viveiro.
ONG Centro de Educação Popular e Formação Social - Teixeira (PB)
Horta orgânica com economia de água
O semiárido paraibano sofre com a falta de chuva. Foi então que a ONG Centro de Educação Popular e Formação Social, que fica no município de Teixeira, passou a executar um projeto chamado “Horta orgânica com economia de água”. As plantações feitas em comunidades rurais envolvem agricultores de base familiar. O projeto consiste na produção de alimentos saudáveis, usando irrigação por gotejamento diretamente nas raízes das plantas. José Dias Campos é coordenador executivo da ONG.
— São canteiros que em vez de regar por cima do cultivo, se rega diretamente na raiz da planta. Ou seja, é uma irrigação por gotejamento diretamente na raiz da planta. E isso permite uma economia de 80% de água. Acrescentando um sombrite de 50% de sombreamento essa economia pode chegar a 90%.
Universidades
Fundação Educacional de Caratinga (Funec) - Caratinga (MG)
Sistema de Informações Municipais de Saneamento Básico (SIMSB)
A Fundação Educacional de Caratinga (Funec), em Minas Gerais, criou o Sistema de Informações Municipais de Saneamento Básico (SIMSB). O objetivo é melhorar a qualidade da água dos municípios banhados pelo Rio Doce. Trata-se de uma solução para elaboração, fiscalização e monitoramento dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSBs) pelas prefeituras da região. Tudo de forma online. Alessandro Saraiva Loreto, um dos idealizadores do sistema, ressalta que com a fiscalização o município estará saneado em 20 anos. O objetivo é buscar a implantação do sistema em todos os municípios brasileiros. O SIMSB está em 74 cidades da Bacia do Rio Doce.
— É um projeto que visa agregar todos os conteúdos dos cinco eixos do saneamento básico: água, esgoto, resíduos sólidos, drenagem e questões institucionais de fortalecimento num único programa onde você consegue fazer com que a população e o gestor municipal consigam fazer uma fiscalização do PMSB.
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - Votuporanga (SP)
Contexto Local e Educação Ambiental - Um Programa de Ensino para Gestão de Recursos Hídricos
O Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) elaborou um programa de ensino para gestão dos recursos hídricos. O trabalho, desenvolvido em Votuporanga, em São Paulo, teve como foco a importância da mobilização e articulação da comunidade local para a efetividade das políticas públicas relacionadas à conservação da água. Uma proposta de programa de ensino foi elaborada para contextualizar os problemas socioambientais locais e políticas públicas. A formação proporcionou aos participantes uma compreensão melhor e mais ampla sobre os problemas e as possíveis soluções. Com o objetivo de replicar a experiência, foram elaborados dois e-books, os quais orientam a realização das atividades – aulas, mapeamento participativo, trabalho de campo, discussões em grupo. A professora doutora Joseli Maria Piranha coordenou a pesquisa, executada pelo aluno André Navarro.
— Ela resulta de um conjunto de investigações que nós vínhamos realizando no âmbito da academia e da participação nossa junto aos comitês de bacia e gestão de recursos hídricos por termos notado a dificuldade de se implementar as políticas públicas quando da ausência da participação popular.
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